A produção do conhecimento é uma atividade coletiva, construída por trocas.

Nem sempre todo mundo que colabora conosco de alguma forma tem seu nome incluído no trabalho que será publicado.

Enquanto outros a gente coloca por obrigação.

Em  grupos de pesquisa, quem tiver ascensão sobre os demais poderá utilizar essa força para usurpar a autoria de um trabalho que seja de seu interesse.

Triste, mas muito real.

Mas como ser justo na hora de dividir a autoria dos nossos trabalhos?

Como saber quando dividir a autoria do trabalho?

A principal condição para ser incluído entre os autores é ter tido participação intelectual na elaboração, análise ou redação do trabalho.

O pesquisador deve ainda estar envolvido com as etapas do estudo e participar das decisões importantes em sua condução.

A criatividade voltada para o avanço científico merece autoria.

A falta de critérios universalmente aceitos quanto à autoria faz com que cada grupo ou instituição criem seus próprios critérios.

Mas isso é bem pouco discutido.

Diante dos conflitos que podem surgir devido à subjetividade implícita em grande parte dos critérios, Petroianu (2002) estabelece alguns aspectos que merecem ser considerados ao se decidir pela autoria de um trabalho.

  • Criar a ideia que originou o trabalho e elaborar hipóteses

É incontestável que a qualidade do trabalho depende do valor da questão e de sua correta apresentação.

Se a pergunta tiver sido bem feita, ela pode inclusive conter o melhor caminho a ser seguido para se alcançar a resposta.

Essa primeira etapa é certamente a base, sem a qual o trabalho jamais existiria.

Quantas boas ideias não surgiram daquela conversa informal?

Cabe a quem faz a ideia ter corpo de pesquisa avaliar o quanto a ajuda na ideia foi fundamental no trabalho ou não.

  • Estruturar o método de trabalho

Tão importante quanto a ideia, é sua estruturação para testar as hipóteses ou buscar a solução do problema.

É preferível que o autor da ideia também seja capaz de estruturá-la.

Mas quem nunca teve aquela ideia sensacional mas não conseguia desenvolver?

Não há problema nenhum em procurar quem possa delinear a pesquisa de forma mais adequada.

Mas é importante estar atento que é também uma fase importantíssima do trabalho.

E o seu valor não pode ser inferior ao concedido a quem teve a ideia.

  • Orientar o trabalho e Coordenar o grupo que realizou o trabalho

A orientação ou coordenação da pesquisa não deve ser entendida apenas como um relacionamento  formal entre aluno/professor.

Qualquer pesquisador ou equipe pode necessitar do auxílio de uma pessoa experiente no assunto.

Principalmente quando o estudo for de um campo científico ao qual os investigadores tiverem menos experiência.

É evidente que a pontuação de quem apenas orienta não pode estar ao mesmo nível de quem teve a ideia ou delineou o trabalho.

Todavia, como o orientador, por ofício, precisa participar de toda pesquisa, ele certamente alcançará uma pontuação destacada dentre os autores.

A coordenação em geral também é exercida pelo orientador, quando o trabalho em questão é elaborado por um grupo.

Eventuais divergências, tanto na parte específica da pesquisa quanto no inter-relacionamento pessoal, são muitas vezes contornadas com o auxílio do coordenador.

Mesmo não sendo indispensável ao trabalho em questão, ele faz jus a uma pontuação elevada.

  • Apresentar sugestões ao trabalho

Em todas as fases da pesquisa surgem oportunidades para sugestões.

Sabe aquela pessoa que se dispõe a ler seu trabalho e discute e/ou faz sugestões?

As vezes a contribuição melhora tanto seu trabalho, que a pessoa merece sim o nome do trabalho.

Muitas vezes mais do que o orientador até.

Caso ele não pertença ao grupo de pequisa, pode-se considerar o convite para sua inclusão.

Desde que haja aprovação unânime dos demais membros.

  • Resolver problemas fundamentais do trabalho

Não é incomum que, durante uma investigação, surjam impasses que coloquem em risco todo o estudo.

Quem nunca ficou empacado na escrita de um trabalho?!

Quem for capaz de solucionar um problema maior merece convite para ser incluído no trabalho.

E eventualmente, na equipe, caso não faça parte dela.

Desde que em concordância com todos os membros do grupo.

  • Coletar dados

A coleta dos dados é, muitas vezes, um trabalho monótono e demorado.

Mas raramente envolve algum tipo de contribuição intelectual.

Apesar disso, quem faz o trabalho duro e muitas vezes chatíssimo, também merece reconhecimento.

Isso significa que vou ter que colocar aquele aluno de Iniciação Científica no meu trabalho só porque ele coletou meus dados?

Se não houve contribuição intelectual, não.

Mas podem aparecer nos agradecimentos.

Não custa agradecer o coleguinha que te poupou um tempão. 😉

  • Apresentação do trabalho em eventos científicos

Muitos estudos, antes de serem publicados em revista, são apresentados como comunicações em eventos científicos.

Os debates decorrentes dessa apresentação geram sugestões úteis ao enriquecimento da pesquisa.

E auxiliam a direcionar  seu manuscrito.

Novos estudos  e ideias também podem surgir destas discussões.

Nessa situação a questão da autoria se refere às normas do evento em que for apresentar.

Alguns eventos exigem que o primeiro autor seja o que apresente o trabalho.

Quando quem escreveu o trabalho não pode ir ao evento, quem vai apresentar pode ter seu nome como primeiro autor.

Isso não quer dizer que em na publicação do artigo ele deve permanecer como primeiro autor.

Em eventos, o importante é divulgar a investigação realizada.

A ordem dos autores com valor real é aquela apresentada no artigo publicado em revista.

Poucos prestam atenção à ordem dos autores nos trabalhos publicados em anais de congressos.

  • Fornecer material e conseguir verbas

Para que um centro de pesquisa funcione, é aconselhável a divisão de trabalho.

O atributo maior do pesquisador é a busca de soluções para problemas por meio de seu trabalho.

Quanto mais elevado o nível da investigação, mais dispendiosa ela se torna.

Cabe a quem pesquisa obter recursos para seu trabalho, já que são raros os que têm condição de financiar suas próprias pesquisas.

A fim de reduzir a perda de tempo dos pesquisadores, deveriam existir setores ou profissionais com a função de conseguir ou liberar verbas para a aquisição do material necessário à condução do trabalho.

Usualmente, o chefe administrativo do setor exerce também o papel de intermediário entre as fontes de fomento e o grupo de pesquisa.

Todavia, por não haver um desempenho intelectual dirigido especificamente à investigação, entra também na sessão de agradecimentos.

Critérios para ordenar os autores

Existem várias regras para se estabelecer a ordem dos autores de um determinado trabalho.

Muitos grupos de pesquisa já têm estabelecidas algumas normas próprias, dentro das quais há uma perfeita harmonia.

O melhor é deixar bem claro e de comum acordo com todos os membros do grupo quais serão os princípios a serem seguidos para autoria, antes de iniciar o trabalho.

As discordâncias têm que ser resolvidas no começo.

Pontuação de autoria

Petroianu (2002) propõe ainda um pontuação para cada participação no trabalho.

Assim, o membro do grupo irá receber a totalidade dos pontos de cada tópico no qual ele tiver mérito.

Após terem sido distribuídos todos os pontos, far-se-á a soma dos valores conferidos a cada membro da equipe.

Se houver qualquer dúvida, ela deverá ser discutida em grupo até chegar-se a um acordo.

Aquele que tiver obtido pontos em um item mais alto ficará na frente dos demais.

A sequência dos autores será em ordem decrescente de pontuação até o mínimo de sete pontos.

Valores inferiores denotam uma contribuição menos expressiva e inadequada para merecer autoria.

autoria