Considerado patrono da educação no Brasil desde 2012, Paulo Freire dá nome a institutos acadêmicos em países como Finlândia, Inglaterra, Estados Unidos, África do Sul e Espanha.

Além de ser referência em educação nos mesmos países.

Mas, em sua terra natal, tem sido criticado por manifestantes que consideram suas teorias uma “doutrinação esquerdista” no ensino.

Mas o que de fato da teoria de Paulo Freire está presente nas escolas hoje?

Ele entra como frase de efeito, como título de biblioteca, nome de salão.

Isso está por todos os lados e em todos os documentos oficiais.

Mas o pensamento dele não colocamos em prática até hoje.

Se colocássemos as ideias de Freire em prática teríamos uma educação participativa e democrática.

E as escolas formariam de fato para a cidadania, como está na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

Coisa que está cada vez mais distante no cenário atual da educação.

Abordamos aqui as principais contribuições de Paulo Freire para a educação.

A Alfabetização para Paulo Freire

Ainda que a referência mais conhecida seja Método Paulo Freire, este autor jamais criou um método de alfabetização.

Proposta é um termo mais adequado aos fundamentos defendidos pelo educador brasileiro.

Um deles consistia na criação de um “Círculo de Cultura”.

Constituído por uma turma de alfabetizandos e um professor orientador, que incentivava os alunos a falarem de suas vidas na comunidade em que viviam.

Para Freire não se alfabetiza por meio de repetição de palavras.

Devemos desenvolver a capacidade de pensá-las com base nas palavras retirados do cotidiano dos alunos.

As palavras deveriam ser ensinadas como palavras geradoras.

Isto é, por meio de uma palavra conseguimos formar muitas outras diferentes .

O Círculo era também a forma espacial de disposição de alunos e professor na sala de aula.

Pois a “roda” favorecia o diálogo, a interação entre todos.

A linguagem e o diálogo eram os pontos de partida para pesquisa, organização e levantamento investigativo do universo vocabular e dos eixos temáticos significativos da vida dos alunos.

A partir destes eixos se definia o material a ser utilizado na aprendizagem da leitura e da escrita.

As palavras constituem a unidade menor da pesquisa, assim como os fonemas, a unidade menor da proposta de ensino.

A proposta didática de Paulo Freire não pode ser entendida em sentido metodológico estrito, por ser um processo dinâmico, que se faz e refaz enquanto é desenvolvido.

Estaria mais próxima de um “método processual coletivo de alfabetização”, sendo impossível determinar as palavras e os temas gerados em cada comunidade, estado ou país.

A alfabetização não pode se fazer de cima para baixo, nem de fora para dentro, como uma doação ou uma exposição.

Ela precisa ocorrer de dentro para fora pelo próprio analfabeto, somente ajustado pelo educador.

freire

Contribuição para o currículo

A contribuição de Paulo Freire para o campo do currículo foi tecida a partir da crítica à educação bancária.

A educação bancária, que tem por referência as teorias tradicionais do currículo, compreende os estudantes como depósitos vazios a serem preenchidos por conteúdos do domínio exclusivo do professor.

Nessa concepção, o estudante é percebido como alguém que nada sabe.

Como ser passível de adaptação e ajuste à sociedade vigente.

A curiosidade e a autonomia vão-se perdendo na produção do conhecimento.

Uma vez que o conhecimento é narrado pelo professor como algo acabado, estático.

Assim, expõe-se o estudante a um processo de desumanização.

Dessa forma, os homens e as mulheres apenas vivem no mundo, mas não existem.

Para Freire, o que possibilita a ação livre, criadora e determinadora das condições de existência é o desenvolvimento de consciência, capaz de apreender criticamente a realidade.

Por isso ele critica esse tipo de educação que não permite a formação de consciência crítica.

Pois os estudantes são estimulados a memorizar o conteúdo, e não a conhecê-lo.

Uma vez que não realizam nenhum ato cognoscitivo do objeto de conhecimento além do caráter verbalista, dissertativo, narrativo.

O que é tal educação libertadora

Uma educação como prática da liberdade, fundamentada na teoria da ação dialógica, que substitui o autoritarismo presente na escola tradicional pelo diálogo democrático nos diferentes espaços de vivências e de aprendizagens.

Esta educação exige que os homens e as mulheres estejam engajados na luta para alcançar a libertação.

Em um processo incessante de conquista que se dá na comunhão com os outros.

O qual resulta de uma conscientização em que os homens e as mulheres (crianças, jovens e adultos) compreendem a sua vocação ontológica e histórica de ser mais.

A educação libertadora tem, fundamentalmente, como objetivo desenvolver a consciência crítica capaz de perceber os fios que tecem a realidade social e superar a ideologia da opressão.

Na educação como prática da liberdade, os homens e as mulheres são vistos como “corpos conscientes”.

E se tem convicção profunda no poder criador do ser humano como sujeito da história.

Uma história inacabada, construída a cada instante, cujo processo de conhecer envolve intercomunicação, intersubjetividade.

Os protagonistas do processo são os sujeitos da educação.

Estudante e professor juntos, dialogam, problematizam e constroem o conhecimento.

Por isso, problematizar, na perspectiva freireana, é exercer análise crítica sobre a realidade das relações entre o ser humano e o mundo.

O que requer os sujeitos se voltarem, dialogicamente, para a realidade mediatizadora, a fim de transformá-la, o que só é possível por meio do diálogo, “desvelador da realidade”.

Essa atitude dialógica, conforme Paulo Freire, permite a reflexão crítica dos homens e das mulheres em suas relações com o mundo para sua libertação autêntica.

Dessa forma, tanto o professor quanto o estudante tornam-se investigadores críticos.

Rigorosamente curiosos, humildes e persistentes: a sala de aula libertadora é exigente, e não permissiva.

Exige que você pense sobre as questões, escreva sobre elas, discuta-as seriamente.

Nessa direção, docentes e discentes carregam a possibilidade de compreender suas relações com o mundo.

Não mais como realidade estática, mas como realidade em transformação, em processo.

Assim, são estimulados a enfrentar a realidade como sujeitos da práxis, da reflexão e da ação verdadeiramente transformadora da realidade.

Diálogo: princípio e fundamento da educação como prática da liberdade

O diálogo, em Paulo Freire, favorece o pensar crítico-problematizador das condições existenciais.

E implica uma práxis social na qual ação e reflexão estão dialeticamente constituídas.

A liberdade de homens e mulheres expressarem as suas ideias, o que pensam e por que pensam, junto com o outro, provoca a interação e a partilha de diferentes concepções que impulsionam um pensar crítico-problematizador da realidade.

Esse movimento gera a necessidade de intervenção no nível das ações.

Visto que, na perspectiva freireana, a palavra verdadeira é práxis social comprometida com a ação transformadora.

A partir da prática dialógica, o sujeito desenvolve suas potencialidades de comunicar, interagir, administrar e construir o seu conhecimento, melhorando sua capacidade de decisão, humanizando-se.

Na prática do diálogo, os homens e as mulheres exercitam o respeito às posições do outro.

Ela é o caminho para a formação da personalidade democrática.

O diálogo libertador é uma comunicação democrática.

Que invalida a dominação e reduz a obscuridade, ao afirmar a liberdade dos participantes de refazer sua cultura.

Para Paulo Freire, o diálogo é construção teórica, atitude e prática pedagógica.

É relação objetividade-subjetividade, tem fundamento e conteúdo e, portanto, é uma categoria teórica.

Como atitude e prática pedagógica, requer reciprocidade na atitude de fala e escuta e tem como fundamento o amor, a tolerância, a humildade e a esperança.

Na prática dialógica, Freire ressalta que a atitude de escuta é tão importante quanto a fala.

Pois o sujeito que escuta sabe que o que tem a dizer tem valor semelhante à fala dos outros.

Desse modo, o saber escutar refere-se não apenas a silenciar para dar a vez à fala do outro, mas também a estar na posição de disponibilidade, de abertura às diferenças.

Isso não se assemelha à aceitação incondicional, a tudo o que o outro pensa e diz.

Mas é o exercício da escuta sem preconceitos que possibilita a reflexão crítica e o posicionamento consciente.

Assim sendo, as pessoas em situação de fala-escuta assumem posição de reciprocidade.

Quem fala quer ser ouvido, compreendido, respeitado.

Quem escuta também quer ter sua oportunidade de falar com as mesmas condições e iguais direitos.

Essas situações ampliam as competências comunicativas necessárias para a convivência democrática na sociedade.

Para saber mais

Recomendo começar pela leitura do Educação e conscientização.

É o capítulo IV da obra Educação como prática da liberdade, de 1967.

Nele, o autor fundamenta historicamente sua concepção de educação, vista sempre em uma relação indissociável da conscientização política.