Quais são os saberes docentes que servem de base ao ofício de professor?

Qual a natureza desses saberes?

São técnicos, de ação ou de habilidades adquiridas?

São apenas cognitivos?

Ou são de natureza social?

E quanto à subjetividade existente na relação professor/aluno?

Como considerá-la e analisá-la?

Os saberes docentes não podem ser separados das outras dimensões do ensino.

Nem do estudo do trabalho realizado diariamente pelos professores de profissão.

Ou seja, não se pode falar do saber sem relacioná-lo com os condicionantes e com o contexto do trabalho.

O saber dos professores está relacionado com a pessoa, e sua identidade, com a sua experiência de vida, com a sua história profissional, com sua relação com alunos e com os demais atores escolares.

Tardif (2002) situa o saber do professor a partir de seis fios condutores.

O primeiro diz respeito ao saber e trabalho.

Dessa forma, o saber do professor deve ser compreendido em íntima relação com o trabalho na escola e na sala de aula.

São as relações mediadas pelo trabalho que fornecem princípios para enfrentar e solucionar situações cotidianas.

O segundo fio condutor é a diversidade do saber.

Pois entende que o saber dos professores é plural, compósito, heterogêneo, por envolver, no próprio exercício da ação docente, conhecimentos e um saber-fazer bastante variados e, normalmente, de natureza diferente.

O terceiro é a temporalidade do saber.

No qual reconhece o saber dos professores como temporal.

Uma vez que o saber é adquirido no contexto de uma história de vida e de uma carreira profissional.

O quarto, é denominado como a experiência de trabalho.

Ou seja, enquanto fundamento do saber, focaliza os saberes oriundos da experiência do trabalho cotidiano como alicerce da prática e da competência profissionais.

É no contexto em que ocorre o ensino que o docente desenvolve o habitus.

E que são certas disposições adquiridas na e pela prática real.

O quinto saber diz a respeito de saberes humanos.

E expressa a ideia de trabalho interativo.

Ou seja, um trabalho em que o trabalhador se relaciona com o seu objeto de trabalho fundamentalmente por meio da interação humana.

E por fim, o sexto e último, saberes e formação profissional, é decorrente dos anteriores.

Ou seja, expressa a necessidade de repensar a formação para a docência.

Considerando os saberes dos professores e as realidades específicas de seu trabalho cotidiano.

A relação dos docentes com os saberes não é restrita a uma função de transmissão de conhecimentos já constituídos.

A prática docente integra diferentes saberes e que mantém diferentes relações com eles.

O saber docente então é como um saber plural.

Formado pela mistura, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.

Nessa perspectiva, os saberes profissionais dos professores são temporais, plurais e heterogêneos.

Personalizados e situados, e carregam as marcas do ser humano.

O mesmo autor em seu livro, ainda considera que são provenientes de diferentes fontes e que os professores estabelecem diferentes relações com eles,

E por isso, tipologicamente os classifica em:

Saberes da formação profissional (das ciências da educação e da ideologia pedagógica)

Compreendido como o conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores.

Saberes disciplinares

Correspondentes aos diversos campos do conhecimento sob a forma de disciplina.

São saberes sociais definidos e selecionados pela instituição universitária e incorporados na prática docente.

Saberes curriculares

Que correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como modelos da cultura erudita e de formação para a cultura erudita.

E por fim, saberes experienciais

Que são aqueles saberes que brotam da experiência e são por ela validados.

Incorporando a experiência individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber-fazer e de saber-ser.

As múltiplas articulações entre a prática docente e os saberes fazem dos professores um grupo social e profissional.

Que, para existir, precisa dominar, integrar e mobilizar tais saberes, o que é condição sine qua non para a prática.