A problematização e a aprendizagem baseada em problemas são termos diferentes para a mesma coisa ou são diferentes caminhos metodológicos?

São na realidade duas propostas metodológicas bem diferentes.

A problematização é uma metodologia que pode ser utilizada para o ensino de determinados temas.

De uma disciplina, mas nem sempre apropriada para todos os conteúdos.

Já a aprendizagem baseada em problemas (ABP), é uma metodologia que passa a direcionar toda uma organização curricular.

Dentro desta perspectiva, as duas propostas assumem dimensões distintas.

Isso porque a primeira é uma opção do professor e a segunda é uma opção de todo um corpo docente, administrativo e acadêmico.

Isso porque as consequências afetam a todos, durante todo o curso.

Como decorrência da opção feita pela Aprendizagem Baseada em Problemas, definem-se porções de conteúdos.

Estes serão tratados agora de modo integrado.

E a partir deles definem-se modos de agir para ensinar, para aprender, para administrar, para apoiar e para organizar materiais.

Há necessidade de  providências quanto à biblioteca, que deve ser suficientemente equipada e espaçosa, horários e  organização de laboratórios, para as atividades opcionais, distribuição de temas versos tempo, etc.

Enfim, definem-se novos papéis para serem desempenhados por todos os envolvidos.

Todas essas  características são bastante distintas dos moldes tradicionais de ensinar e aprender e da organização curricular a que a maioria quase absoluta das escolas estão acostumadas.

A opção pela problematização não requer grandes alterações materiais ou físicas na escola.

As mudanças são mais na programação da disciplina.

Requer sim alterações na postura do professor e dos alunos para o tratamento reflexivo e crítico dos temas.

E na flexibilidade de local de estudo e aprendizagem.

Já que a realidade social é o ponto de partida e de chegada dos estudos pelo grupo de alunos.

problematização

Os problemas constituem um dos pontos comuns das duas propostas.

Na problematização, os problemas são identificados pelos alunos, pela observação da realidade e na qual as questões de estudo estão acontecendo.

Observada de diferentes ângulos, a realidade manifesta-se para alunos e professores com suas características e contradições, nos fatos concretos e daí são extraídos os problemas.

A realidade é problematizada pelos alunos.

Não há restrições quanto aos aspectos incluídos na formulação dos problemas.

Já que são extraídos da  realidade social, dinâmica e complexa.

Na aprendizagem baseada em problemas, os problemas são cuidadosamente elaborados por uma comissão especialmente designada para esse fim.

Deve haver tantos problemas quantos sejam os temas essenciais que os alunos devem estudar para cumprir o currículo.

Sem os quais não poderão ser  considerados aptos para exercer a profissão.

E devem consistir  de uma descrição neutra do fenômeno em estudo, ser isento de distrações e ainda serem  completamente entendidos de um ponto de vista científico.

A aprendizagem baseada em problemas tem uma sequência de problemas a serem estudados.

Ao término de um, inicia-se o estudo do outro.

O conhecimento adquirido em cada tema é avaliado ao final de cada módulo.

Com base nos objetivos e nos conhecimentos científicos.

Na problematização, após o estudo de um problema poderão surgir outros como desdobramentos do primeiro, só percebidos pelos alunos com o estudo aprofundado deste.

Os  conhecimentos científicos também são importantes e são buscados na etapa da teorização.

No entanto, ao mesmo tempo são buscadas as percepções ou representações de pessoas que vivem o problema.

Ou que convivem com situações em que está presente, além de informações de outras fontes.

Os diferentes tipos de saberes são conjugados pelos alunos enquanto constroem seus conhecimentos.

Ou seja, a problematização envolve além do científico, relações entre o técnico-científico e o social, político e ético.

Na ABP os objetivos cognitivos são todos previamente estabelecidos.

E os construídos pelos estudantes deverão coincidir com os dos especialistas do currículo.

Já na problematização não há controle total dos resultados em termos de conhecimentos.

Os conhecimentos são buscados para responder ao problema em estudo.

Este entendido amplamente, considerando-se suas possíveis causas e determinantes, que em geral ultrapassam os aspectos técnico-científicos.

Os  resultados não são de todo previstos.

A não ser em termos da vivência das atividades pelo aluno em todas as etapas do processo.

Os conteúdos tanto podem não satisfazer ao professor em termos do que gostaria de ver apreendido pelos alunos, quanto podem surpreender ao professor e ao próprio grupo quando descobrem aspectos e relações não previstos.

Se ocorre o primeiro caso, o professor poderá/deverá providenciar outra forma e momento para suprir o essencial do programa não atingido naquele tema.

Ambas incluem hipóteses a serem formuladas pelos alunos.

Já na ABP, as hipóteses são elaboradas pelos alunos sobre as possíveis explicações do problema antes de seu estudo.

Como uma forma de estimulá-los a partir dos conhecimentos que já dispõem, pelas suas experiências anteriores.

Na problematização há um momento semelhante a este, mas aí os alunos analisam as possíveis causas e possíveis determinantes maiores do problema a estudar.

As explicações não são somente relacionadas aos conhecimentos técnico-científicos.

Este é um momento crítico de buscar captar relações sociais, políticas e econômicas.

Também aí os alunos partem de seus conhecimentos prévios, que poderão ser comprovados ou reformulados pelo estudo na teoria.

As hipóteses,  porém, são formuladas após o estudo.

Quando já contando com informações científicas, técnicas, legais, históricas, empíricas ou outras, formulam as hipóteses de solução, que orientarão a intervenção na realidade da qual se extraiu o problema.

Ambas as propostas incluem também o trabalho em grupo.

Na problematização, o grupo trabalha junto o tempo todo, com a supervisão de um professor.

Em alguns momentos poderão distribuir tarefas, mas retornam sempre para o grupo, que vai construindo o conhecimento através  das etapas do Arco.

Na ABP, o grupo inicia junto o conhecimento e discussão do problema.

E retorna depois para a rediscussão no grupo tutorial, quando os estudos individuais já foram feitos.

Professores especialistas podem ser consultados durante o estudo.

Na problematização, os estudos ocorrem na etapa da teoria, quando se buscam as informações sobre os pontos chave.

Onde quer que elas se encontrem, contando para isso com o uso de técnicas e instrumentos de coleta de dados usuais na pesquisa científica.

Mas podendo utilizar também recursos não convencionais, como depoimentos escritos, orais etc., quando significativos  para compreensão do problema.

Na ABP, o estudo se dá essencialmente na biblioteca.

Quando os alunos  buscam atingir os objetivos cognitivos que elaboraram para alcançar, a partir dos problemas.

Deste modo, é possível entender que a Aprendizagem Baseada em Problemas lança mão do conhecimento já elaborado para aprender a pensar e raciocinar sobre ele e com ele formular soluções para os  problemas de estudo.

Já a problematização, além disso, é um desafio para a construção  de novos conhecimentos.

Pela aproximação da realidade em que o tema em estudo é vivido por  diferentes atores sociais.

Há também uma grande diferença quanto ao uso dos resultados dos estudos.

Na ABP, os conhecimentos serão utilizados para resolver os problemas como exercício intelectual e nas práticas de laboratório e/ou com pacientes.

Além dos objetivos cognitivos é dada muita importância à aquisição de  habilidades.

Por meio de aprendizagem em modelos, pacientes simulados, observação intensa do que é normal e também a aprendizagem de habilidades dos estudantes com os estudantes.

Para a resolução dos problemas, no entanto, o estudo individual é importante para a retenção dos  conhecimentos.

Após o estudo individual pelos alunos, esses resultados são apresentados e discutidos no grupo tutorial.

A partir do que estarão preparados para serem avaliados no final do  módulo.

Inicia-se, então, o estudo de outro problema.

Na problematização os resultados deverão voltar-se para algum tipo de intervenção na  realidade.

Na mesma realidade na qual foi observado o problema, imediatamente, dentro do nível possível de atuação permitido pelas condições gerais de aprendizagem, de envolvimento e de compromisso social do grupo.

A etapa da aplicação à realidade é uma etapa prática e transformadora.

O grau de intervenção depende de vários fatores.

Mas alguma intervenção deve ocorrer ou então não será a metodologia da problematização.

Percebe-se assim que tanto o ponto de partida quanto o ponto de chegada das duas propostas são diferentes.

E é possível que a explicação maior esteja em seus fundamentos teóricos.

A máxima ação-reflexão-ação transformadora é o eixo básico de orientação de todo o processo.

A ABP tem como inspiração os princípios da Escola Ativa, do Método  Científico, de um Ensino Integrado e Integrador dos conteúdos, dos ciclos de estudo e das diferentes áreas envolvidas, em que os alunos aprendem a aprender e se preparam para resolver  problemas relativos à sua futura profissão.

Por todas essas razões a problematização e APB não são apenas dois termos, mas dois caminhos diferentes de ensino e de formação  profissional, com diferentes consequências.