Quem nunca teve dificuldade em colocar em prática uma teoria?

Quem nunca ouviu ou falou que, na a teoria na prática é outra?

Eu diria que, a teoria é uma coisa, mas a prática pode não ser outra.

Não é raro ouvir que as teorias são construídas deslocadas da prática.

Dentro da lógica de que é fácil elaborar propostas no ambiente acadêmico, sem estar vivendo o dia a dia institucional.

Mas será que é mesmo possível propor uma teoria sem prática?

Quem está na rotina de sala de aula, podem sucumbir às armadilhas da realidade empírica.

Isto é, à ilusão do conhecer pela via do imediato, banalizando o exercício da investigação, em função, sobretudo, da cobrança da prontidão para a ação.

Mesmo que esta ação se configure como frágil, incompleta e repetitiva.

Como atuar hoje, sem um agir-refletir crítico?

Sem uma sólida fundamentação teórica, sem encarar a prática em sua contextualidade e temporalidade histórica?

Esta é uma questão que nos coloca diante de um primeiro ponto a considerar:

O que é ser professor?

Um individuo que domina o conteúdo específico da matéria?

Alguém que domina o saber fazer?

Professores lidam com muito mais do que conteúdo científicos.

Lidamos com conflitos sociais  aos quais os alunos estão envolvidos e interferem diretamente na aula.

Além do que já temos que lidar, andam depositando na nossa conta a obrigação de educar também os princípios e valores.

São muitas vertentes para lidar.

Além do pouco reconhecimento, pouco salário, muito trabalho.

Cada vez mais estamos com demandas complexas e contraditórias.

E muitas vezes a teoria se desencontra da prática.

Porque a teoria é aliada à prática

Saindo do campo das indagações para o das ações, vamos encontrar muitos profissionais inquietos e insatisfeitos.

Tanto em função de suas rotinas de trabalho, quanto em termos de resultados alcançados.

São esses profissionais inquietos que não tem limites em termos de iniciativas no campo da ação.

E a criatividade é posta em cena para vencer os inúmeros obstáculos.

Para se contornar impedimentos, para sempre provocar revisões nas possibilidades em torno do que fazer.

Todo dado empírico não fala por si, mas pela ‘boca’ de uma teoria.

Se fosse evidente em si, produziria a mesma análise sempre.

Ou seja, toda experiência cotidiana tem uma teoria em que se apoia.

Ou toda teoria foi construída com base em uma experiência.

A teoria faz parte inevitável de qualquer projeto de captação da realidade.

A começar pelo desafio de definir o que seja ‘real’.

Assumir, de fato, a perspectiva da prática profissional como também produtora de saberes, é uma tarefa complexa.

E isso demanda tempo. E disposição.

E hoje é comum vermos a busca por uma resposta direta sem ter que de fato participar da construção intelectual da solução.

Como nosso fazer tem pressa, talvez estejamos construindo uma relação também apressada e equivocada com o saber.

Ignorando que o contato inicial com o que aparece, dever ser caracterizado, sobretudo, pela desconfiança, pela
interrogação, valorizando-se o necessário percurso teórico.

Percurso sinônimo de construção intelectual criteriosa, já que as teorias devem ser vistas enquanto construções históricas e sociais.

É importante lembrar que  as teorias são passíveis de interpretações e de limitações.

Isso significa que as teorias iluminam determinadas áreas da realidade e não contemplam outras.

Como então manter teoria e prática andando junto

A questão é tanto analisar o que se sabe e o como se sabe, quanto o que se faz com este saber.

Como se concebe a relação saber-fazer-saber.

Se o meu saber é superficial, generalista e rotulador e, ainda, não consegue ser diferente do apresentado pelos usuários, o meu fazer ganha cara de ação frágil, fragmentada, inconsistente.

Se a minha prática é muito diferente da teoria que eu considero, eu não consegui compreender direito a teoria.

Precisamos construir caminhos para a apropriação intelectual da realidade que nos cerca.

Criar análises em sintonia com as demandas que se apresentam, articulando os enfrentamentos necessários e cabíveis.

Estaremos, assim, caminhando para a chamada competência.

O traquejo para saber fazer as coisas.

Fruto da sintonia entre o pensamento ético, crítico e estratégico.

Isto porque, a questão não é só avançar no saber, na construção de leituras de realidade.

Cabe, também, desenvolver proposta de intervenção que dialoguem, permanentemente, com este saber.

Buscando-se interferir na rota das questões que nos são colocadas e que, agora, já poderão admitir novas configurações.

Além disso, cabe lembrar que o conhecimento é, também, fenômeno político.

teoria

Fuja da acomodação

Se nossa prática é feita de rotinas, estas não podem ser usadas como desculpas para um fazer repetitivo.

Rotinas não significam, necessariamente, que todo dia tem que ser tudo sempre igual.

Isso só acontece quando elas impedem nosso pensar, travam a nossa capacidade de reflexão e construção.

E não nos permitem ver mais do que aquilo que só é uma manifestação empírica.

É preciso investir na competência crítica e questionadora, na competência teórica e propositiva, na competência ética e política.

É preciso cotidianizar a pesquisa, assumir a postura investigativa que liberta da concepção de que prática é, simplesmente, ação.

Como o saber, a prática não é algo acabado e não precisa obedecer à receitas pré-estabelecidas.

Muitos ingredientes nela se misturam em diferentes contextos, mas, sem dúvida, a teoria é um deles.

E um ingrediente que não pode ser dispensado.

Transitar pela prática envolve um percurso no mundo do conhecido-desconhecido, do dito e não dito, do feito e não feito, buscando-se inter-relações, sinalizando-se contradições, construindo-se os passos possíveis.

As respostas não estão prontas, se constroem, processando-se informações, análises e sínteses.

É verdade que a teoria é uma “coisa”. Mas a prática  não pode, realmente, ser outra.

O desafio é nosso e é importante assumi-lo.

Nos ensinaram que o presente é produto do passado e o futuro também.

Só que o presente é, ao contrário, uma escolha de futuros possíveis a se realizar num ponto de nossa trajetória.

É isso o que conta para balizar a trajetória inovadora.