Você já ouviu falar em conflito cognitivo?
É uma das partes mais detidas dos estudos de Jean Piaget, do psicólogo estadunidense Jerome Bruner, de Vygotsky e de Wallon.
Para entendermos o que é um conflito cognitivo pense na seguinte situação:
Um estudante se depara com uma contradição entre suas percepções e representações e o que o meio cultural lhe diz.
Ou seja, um estudante que já tem um pre-conceito formado sobre determinado assunto e você, enquanto professor, apresenta uma nova informação.
Informação essa que entra em conflito com o conceito que o aluno trás.
Conflito porque a informação ou conceito que o aluno traz consigo não é o suficiente para explicar ou resolver o que você propõe.
Esse desequilíbrio entre o que o aluno sabe e o que está sendo apresentado é o que chamamos de conflito cognitivo.
Esse conflito é importante para para construir um novo conhecimento.
E pode ter uma dimensão pessoal e social.
O conflito cognitivo pode ser um grande impulso para que o estudante se motive a rever suas ideias e concepções a respeito de algo.
No entanto, ele pode igualmente ser gerador de frustração e desestímulo.
Levando o estudante a abalar de tal forma a sua autoestima a ponto de convencê-lo a deixar de se dedicar ao estudo da ciência.
É necessário perceber que o conflito cognitivo tem uma base afetiva.
Que influencia as ideias e a própria dinâmica da evolução cognitiva do sujeito.
Conflito cognitivo e sócio-cognitivo é a mesma coisa?
Quase.
O termo conflito sociocognitivo se refere ao mesmo fenômeno.
Mas diante de uma moldura teórica ligeiramente diferente.
Na colaboração sem conflito, os diálogos tendem a valor de controle e reforço do posicionamento de apenas uma parte da interação.
Quando essa situação é simétrica (ou quase), fala-se em co-construção.
Pois há sucessão alternada de intervenções e, nessa situação, não se pode evidenciar o conflito sociocognitivo.
Ele poderia estar presente nas situações de desacordo, que tanto podem ser argumentados ou não.
Por que você deve usar o conflito cognitivo nas suas aulas
O conflito cognitivo acontece quando o sujeito se depara com uma situação e percebe que os seus esquemas não são suficientes para solucionar a questão, gerando, então, um desequilíbrio cognitivo.
Esse evento faz parte do processo de equilibração, o qual, segundo Piaget (1976), é o mecanismo básico na formação dos conhecimentos.
A equilibração acontece como resultado do constante processo equilíbrio-desequilíbrio-reequilíbrio ao qual passamos no caminho para a construção dos seus conhecimentos.
Dessa forma, o conflito cognitivo deve ser utilizado com o intuito de produzir indícios de pensamento operatório concreto.
E agir em torno de regulações ativas.
Nessas, há necessidade de uma mudança de meios, de hesitação entre meios diversos.
O que ocasiona, então, a necessidade de escolha, a tomada de decisão.
Por isso quando queremos que o sujeito apresente indícios de operatoriedade a partir das regulações ativas, fornecemos novos elementos a fim de produzir uma mudança.
Sejam aspectos negativos que se contrapõem a uma afirmativa do sujeito.
Seja o preenchimento de lacunas (aspectos que não se contrapõem).
O conflito cognitivo é um aliado para o processo de ensino-aprendizagem.
E como geramos esses conflitos?
Uma possibilidade é a de sincronizar o conflito cognitivo, tornando-o compartilhado por um grupo ampliado.
Isso significa que você enquanto professor pode ter momentos de fala em que provoca o confronto de ideias.
Como?
Você pode tanto usar fala de diferentes alunos para colocar um contraponto.
Quanto você mesmo confrontar as ideias apresentadas pelos alunos apresentando outros aspectos ou perspectivas.
Isso amplia a motivação do grupo para participar do debate.
E pode ser feito tranquilamente em uma sala de aula, ou mesmo envolvendo diversas salas de aula.
Outra possibilidade é criar uma problematização da própria situação.
Na qual seja possível conferir uma dimensão maior ao conflito cognitivo e estabelecer uma interlocução ainda mais ampliada.
Nesse caso, seria conveniente abordar conflitos acerca de temas que não possam ser facilmente solucionados.
Ou seja, problemas abertos que não tem uma solução óbvia ou única.
Aulas investigativas também são ótimas para usar o conflito cognitivo.
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