Emília Beatriz Maria Ferreiro Shavi foi uma pesquisadora e psicóloga argentina.

Se doutorou sob a orientação do biólogo suíço Jean Piaget, onde buscou compreender os mecanismos cognitivos da criança voltados para o processo de aprendizagem da leitura e escrita.

Procurou investigar não só os meios de como a criança aprende, mas o modo em que ela aprende.

Emília Ferreiro traz concepções de que todos os conhecimentos têm uma gênese (origem) e que a aprendizagem da escrita não está vinculada à fala, e mesmo quando a criança já estabelece a relação entre fala e escrita, esta relação ainda não é do tipo fonema (fala, som) e grafema (escrita, grafia).

Adquirir a linguagem, ter domínio da escrita e saber interpretar o que se leu exige bastante, mas a criança precisa passar por cada fase gradativamente, assimilando, conhecendo e reconhecendo, descobrindo e construindo suas próprias experiências sabendo que sua individualidade está sendo respeitada.

Principais Contribuições Teóricas

Do método de ensino ao processo de aprendizagem

Emília Ferreiro questionou a ênfase tradicional nos métodos de ensino (analíticos, sintéticos ou mistos), propondo uma inversão epistemológica: “Como a criança aprende a ler e escrever, independentemente do método utilizado?”.

Seus estudos evidenciaram que a criança não é um “recipiente passivo”, mas um sujeito ativo que constrói hipóteses originais sobre a escrita, mesmo antes da instrução formal.

Psicogênese da Língua Escrita

Em parceria com a psicolinguista espanhola Ana Teberosky, Ferreiro publicou a obra Psicogênese da Língua Escrita (1979), baseada em experimentos com crianças de diferentes contextos socioculturais.

A pesquisa identificou etapas sequenciais na construção da escrita:

Pré-silábica: A criança diferencia desenho de escrita, usando símbolos não convencionais.

Silábica: Cada grafema representa uma sílaba, exemplo: “CVA” para “casa”.

Silábico-alfabética: Combinação de representações silábicas e fonéticas.

Alfabética: Domínio do princípio fonográfico (relação grafema-fonema).

Dissociação entre Fala e Escrita

Emília Ferreiro contestou a visão de que a escrita é mera transcrição da fala.

Demonstrou que a criança inicialmente não estabelece relação direta entre fonemas e grafemas, construindo sistemas intermediários.

Por exemplo, hipótese da quantidade mínima de letras para formar uma palavra.

Implicações Pedagógicas

Ambiente Alfabetizador

Enfatizou a necessidade de um contexto rico em materiais escritos (livros, cartazes, jogos), onde a criança possa testar hipóteses e refletir sobre erros.

O papel do professor é mediar, e não impor regras precocemente.

Construtivismo na Prática

A alfabetização deve respeitar o ritmo individual, valorizando os conhecimentos prévios.

Assim, Emília Ferreiro criticou métodos massificados, defendendo atividades como produção de textos espontâneos, análise de palavras com estruturas variadas e discussões sobre diferenças entre escrita e oralidade.

Críticas ao reducionismo fonético

Apesar de reconhecer a importância da consciência fonológica, alertou que reduzir a escrita à decodificação de sons ignora dimensões semânticas e socioculturais da linguagem.

Legado de Emília Ferreiro

A obra de Ferreiro tornou-se referência global a partir dos anos 1980, influenciando políticas educacionais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) no Brasil.

Entretanto, gerou debates: críticos argumentam que seu modelo subestima a necessidade de instrução sistemática em contextos de baixo letramento.

Mas estudos recentes em neurociência cognitiva corroboram suas ideias, mostrando que regiões cerebrais associadas à escrita (giro fusiforme) ativam-se gradualmente, conforme a criança avança nas hipóteses descritas por Ferreiro.