As emoções dirigem, conduzem e guiam a cognição.

Ao longo da evolução humana e ao longo da educação da criança, ambas co-evoluíram e co-evoluem.

Elas são neurofuncionalmente inseparáveis.

Pela relevância que ela desempenha numa aprendizagem bem sucedida, a emoção é crítica para a aprendizagem.

Tanto para o aluno (ser imaturo, inexperiente, aprendente ou discente).

Quanto para o ensino, e portanto, para o professor (ser maturo, experiente ou docente).

O ensino aprendizagem é um processo social e intersubjetivo.

Pois envolve, simultaneamente, as emoções de um ser inexperiente com as de um ser inexperiente.

Cabe assim ao professor a criação, a gestão, o planejamento e gestão do envolvimento social da sala de aula.

Esse envolvimento é importante para criar condições emocionais e afetivas para que a aprendizagem, como ato cognitivo construído e co-construído, aconteça efetivamente.

É impossível pensar em separar a emoção da aprendizagem ou a emoção da cognição ou da razão.

Ou conceber, exclusivamente e friamente, na individualidade do aluno ou no sujeito aprendente.

Pois temos que pensar também na individualidade do professor ou do sujeito docente.

Isso porque alunos e professores interagem socialmente e aprendem uns com os outros.

Logo, quer a emoção, quer a cognição, devem ser enquadradas num contexto social e obviamente cultural.

A aprendizagem significativa e motivadora é o resultado da interação entre a emoção e a cognição.

Ambas estão tão conectadas a um nível neurofuncional tão básico, que se uma não funcionar a outra é afetada consideravelmente.

As emoções afetam todas as aprendizagens

Quanto mais envolvidas forem com elas, mais mobilizadas são as funções cognitivas da atenção, da percepção e da memória.

E mais bem geridas e fortes serão as funções executivas de planificação, priorização, monitorização e verificação das respostas.

Quando o input emocional é adicionado à experiência de aprendizagem, o cérebro capta e processa os estímulos de forma mais significativa e profunda.

Facilitando a sua retenção e recuperação e, consequentemente, a elaboração e regulação das respostas.

A emoção guia a atenção e esta, por sua vez, guia a memória e a aprendizagem.

As práticas educacionais que ocorrem numa instituição como a escola ou numa sala de aula não são neutras.

E sem uma adequada regulação emocional nenhuma competência cognitiva superior ou racional, como por exemplo, aprender a ler e a escrever, pode ser construída e produzida em termos comportamentais com fluência e expressividade.

Parece óbvio que as emoções não só facilitam a construção e a co-construção de comportamentos adaptados presentes e futuros como certamente são facilitadoras do desenvolvimento do processo de aquisição de novas informações e de novos conhecimentos.

Pois ao contrário do que habitualmente se pensa, as emoções não são apenas funções auxiliares ou secundárias da aprendizagem, são parte integrante do seu processo total.

A  emoção e a cognição incorporam-se na aprendizagem

A emoção envolve, portanto, processos de atenção, sensação, apreensão, excitação, propensão, inclinação, predileção, gosto, sensibilidade, focagem, intuição, preferência, impressão, receio, suspeição, susceptibilidade, pressentimento, ideação, premunição, consciencialização, etc.

Isso porque joga com ganhos e perdas, desafios ou ameaças.

Logo desencadeia respostas somáticas, corporais e motoras de antecipação muito importantes para o processo de aprendizagem.

A vida emocional e/ou afetiva humana, dita automática, não verbal e não simbólica é, evolutivamente, um fato psíquico primordial.

Ela decorre em primeiro lugar em comparação com a vida cognitiva, voluntária, racional e lógica, dita verbal e simbólica, tendo em consideração a hierarquia dos substratos neurológicos do cérebro.

A emoção é uma premissa psicofisiológica e psicomotora da vida afetiva

Ao longo da infância é a emoção que abre o caminho à cognição.

Uma é inseparável da outra, nenhuma delas se pode conceber isoladamente.

Daí a importância das emoções na aprendizagem, sem emoção a aprendizagem é debilitada e comprometida.

A maturação do cérebro humano e, consequentemente, todo o neurodesenvolvimento que suporta as suas aprendizagens prospectivas, reforçam o papel da afetividade e da harmonia das interações emocionais precoces.

Se relação precoce professor-aluno não for facilitadora, mediatizadora e acolhedora, as aprendizagens escolares iniciais podem evocar sofrimento emocional.

A emoção e a cognição juntam-se para produzir aprendizagem, exatamente porque a emoção emanada do organismo, ou seja, do corpo (múltiplas sensibilidades) e da sua motricidade (múltiplas motricidades) por interação com o envolvimento, gera uma multiplicidade de fenômenos psíquicos complexos.

Sabemos que, nos primeiros anos, as crises emocionais são mais frequentes e veementes, por ilustrarem que elas funcionam como pedestal das funções cognitivas posteriores.

Mas se surgirem crises emocionais ao longo dos processos de aprendizagem mais diferenciados, como no aprender a ler, escrever, calcular e resolver problemas, a socialização da criança e as suas dificuldades e transtornos de personalidade podem ficar irremediavelmente comprometidos.

Possuir um sistema cerebral operativo em termos emocionais e sociais é essencial para o desenvolvimento integral.

Nele cabem competências emocionais e sociais fundamentais para o seu sucesso escolar e seu sucesso na vida futura.

As emoções, à medida que crescemos e nos desenvolvemos, são reabsorvidas neurologicamente em benefício de outras formas de comportamento mais complexas e diferenciadas.

A aprendizagem sugere assim, consequentemente, que inicialmente as emoções tomem a liderança, para mais tarde as cognições puderem fluir e se expandir.

Em síntese, para aprender na escola é necessário dois sistemas operativos.

Não só o cognitivo, a que se dá mais importância, mas também o emocional e social.

Para ter êxito escolar, o cérebro tem de funcionar com integridade.

Quer no sistema operativo emocional e social (SOES), revelando as seis competências acima designadas.

Quer com plasticidade no sistema operativo cognitivo (SOC).

Sem processar bem a informação emocional e social, aprender se torna um processo de luta e sofrimento.

O sistema operativo cognitivo tem de incorporar o sistema operativo emocional e social.

Só dessa forma o cérebro internaliza e incorpora o que foi aprendido com a experiência.

As emoções modelam e organizam a cognição por meio da experiência e da prática deliberada.

A apropriação ou incorporalização do conhecimento consciente arrasta consigo reações emocionais que levam o indivíduo a aprender com a experiência e a se modificar através dela.

Aprender com a experiência sugere uma interação íntima entre as emoção e a cognição.

Entre processos relacionados com o corpo e a motricidade e processos relacionados com o cérebro e a mente.

A joia do organismo que aprende compõe-se, assim, de quatro diamantes que vão sendo lapidados com a aprendizagem e a experiência, com a emoção e a cognição.

As emoções integram processos relacionados com o corpo e a motricidade.

Sensações (interoceptivas, homeostáticas, proprioceptivas, tônicas e exteroceptivas), impressões, atitudes, posturas, acepções, percepções, noções, sentimentos, etc., quer sejam atuais quer simuladas ou cogitadas, que na sua diversidade e complexidade podem influenciar o pensamento, e logo, a aprendizagem.

Em contrapartida, os pensamentos também podem desencadear emoções que tendem a interferir com a mente e o corpo.

Concomitantemente, as emoções também integram convergentemente processos relacionados com o cérebro e a mente.

Processamentos e análises de informação, memórias, planificações, estratégias de execução, tomada de decisão, integração de emoções superiores (sociais, morais, éticas), motivações intrínsecas, premunições, concepções, priorizações, raciocínios complexos, etc., que na sua transcendência podem influenciar igualmente os sentimentos.

Aprender, pensar, utilizar estratégias executivas e tomar decisões acertadas requer intuições relevantes.

Ou seja, funções emocionais profundas, é esse atributo da personalidade que caracteriza os seres humanos que aprendem e pensam com eficiência.

FONSECA, Vitor da. Importância das emoções na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica. Rev. psicopedag., São Paulo,  v.33, n. 102, p.365-384, 2016.