Para um jovem docente, a entrada no mundo do trabalho não é fácil.
A transição de aluno a professor, por vezes, estão também associadas alterações ao nível do modo de vida, alterações familiares, geográficas e conflitos internos.
Se o docente principiante não estiver devidamente preparado, o primeiro ano escolar pode ser assustador e muito desgastante.
Um docente em início de carreira tem uma visão da profissão diferente da que tem um docente com experiência.
E durante os três primeiros anos, por melhor que seja a preparação do docente em termos científicos e pedagógicos existe sempre o chamado “choque com a realidade”.
Esse choque é resultado das diferenças encontradas entre a formação inicial e o que acontece na realidade (Estrela, 1997).
O choque com a realidade pode manifestar-se segundo cinco indicadores (Müller-Fohrbrodt et al, 1978).
Quando existe percepção dos problemas e é demonstrado algum desagrado.
Como por exemplo: lamentações sobre horários, cansaço, stress, etc.
Quando existem mudanças nos professores que são provocadas por agentes externos.
Quando o professor muda de atitude relativamente às suas crenças.
Mudanças ocorridas a nível da estabilidade emocional e auto conceito.
É o indicador máximo, e é atingido quando o grau de desilusão é muito elevado.
É visto como sendo a única solução.
Infelizmente no nosso sistema de ensino, na maioria dos lugares os docentes não são unidos.
São competitivos.
E o docente principiante raras vezes tem apoio específico.
Está entregue a si próprio e por vezes sente-se ainda julgado.
O início do trabalho docente configura-se como uma fase onde o professor vivencia situações inesperadas, difíceis e até constrangedoras ( HUBERMAN, 2000; TARDIF & RAYMOND, 2000).
Os principais conflitos do docente iniciante (Beach & Pearson, 1998)
Esta categoria de conflito pode ser subdividida em conflitos e tensões entre as percepções do que é relevante para o professor e as percepções dos estudantes.
Entre o currículo da escola e o currículo do professor.
E entre cumprir o currículo proposto e ser ao mesmo tempo construtivista.
Conflitos pessoais em suas relações com os estudantes, com colegas professores, administradores e sentimento de isolamento pessoal do professor.
Conflitos e tensões relacionadas às expectativas com os programas da universidade.
As complexidades e políticas de sistemas escolares, pressões para socializar a cultura das escolas e do ensino.
Conflitos e tensões relacionadas ao autoconceito de ser professor e seu papel como professor, o papel da ambiguidade na transição de estudante para professor, conflitos internos de se autodefinir.
Ao se depararem com os conflitos os professores iniciantes buscam solucioná-los usando estratégias.
Como: afastar-se dos conflitos, soluções de curto prazo (chamadas de “técnicas de sobrevivência”) e mudanças de longo prazo (checar suas crenças pessoais e examinar possíveis incongruências entre elas e os próprios conflitos).
Os dilemas dos professores (Ben-Peretz & Kremer-Hayon, 1990)
Ou seja, quando o professor tem de fazer opções.
Como por exemplo, escolher entre uma estratégia de ensino/aprendizagem centrada no aluno ou centrada no professor.
Como por exemplo valorizar o conhecimento quotidiano ou impor a cultura de escola aos alunos.
Ou fazer uma seleção de conteúdos de acordo com os ritmos de aprendizagem dos alunos.
Ou ainda aderir a seleções vindas do exterior.
E adotar uma avaliação diferente da convencional ou apenas quantificar o produto final.
Ou seja, confronto entre várias culturas dos diversos intervenientes educativos, as diferentes gerações de professores.
Além disso, espera-se sempre muito de um professor.
E principalmente, que ele seja responsável e que tome decisões acertadas.
Tendo de escolher entre o que deve ser, o que se espera que faça e o que as circunstâncias obrigam que se faça.
E como se resolvem tais dilemas e conflitos?
A gestão dos dilemas consiste na adoção de novas estratégias de ensino, na aceitação por parte do professor da necessidade de mudança no que diz respeito às suas crenças e por último a combinação das duas anteriores.
Ou seja, a combinação das novas estratégias com as mudanças no que diz respeito às suas crenças.
Além disso, o docente iniciante precisa ter tranquilidade para entender que, se ‘aprende’ ser professor, sendo professor.
Os erros fazem parte, acontecem e precisam ser utilizados para crescer.
Não é uma profissão fácil, enfrentamos diversas dificuldades de diferentes natureza.
Mas é compensador ser parte da formação de outra pessoa.
As trocas que temos com os alunos, as coisas que também aprendemos com eles.
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