Afinal de contas, o que é uma prática pedagógica?
É comum considerar como pedagógico apenas o roteiro didático de apresentação de aula.
Ou seja, apenas o visível dos comportamentos utilizados pelo professor durante uma aula.
Uma aula ou um encontro educativo se torna uma prática pedagógica quando se organiza em torno de intencionalidades.
Será prática pedagógica quando incorporar a reflexão contínua e coletiva.
De forma a assegurar que a intencionalidade proposta é disponibilizada a todos.
Será pedagógica à medida que buscar a construção de práticas que garantam que os encaminhamentos propostos pelas intencionalidades possam ser realizados.
Uma prática pedagógica, em seu sentido de práxis, configura-se sempre como uma ação consciente e participativa.
Que emerge da multidimensionalidade que cerca o ato educativo.
A prática docente é sempre uma prática pedagógica?
É comum considerar que práticas pedagógicas e práticas educativas sejam termos sinônimos e, portanto, a mesma coisa.
No entanto, quando se fala de práticas educativas, faz-se referência a práticas que ocorrem para a concretização de processos educacionais.
Ao passo que as práticas pedagógicas se referem a práticas sociais que são exercidas com a finalidade de concretizar processos pedagógicos.
Então Pedagogia e Educação são conceitos e práticas distintas?
São conceitos mutuamente articulados, porém, com especificidades diferentes.
A educação, numa perspectiva epistemológica, é o objeto de estudo da Pedagogia.
Enquanto, numa perspectiva ontológica, é um conjunto de práticas sociais que atuam e influenciam a vida dos sujeitos, de modo amplo, difuso e imprevisível.
Por sua vez, a Pedagogia pode ser considerada uma prática social que procura organizar/compreender/transformar as práticas sociais educativas que dão sentido e direção às práticas educacionais.
Pode-se dizer que a Pedagogia impõe um filtro de significado à multiplicidade de práticas que ocorrem na vida das pessoas.
A diferença é de foco, abrangência e significado.
Ou seja, a Pedagogia realiza um filtro nas influências sociais que, em totalidade, atuam sobre uma geração.
Essa filtragem, que é o mecanismo utilizado pela ação pedagógica, é, na realidade, um processo de regulação.
E, como tal, um processo educativo.
O que são, afinal, práticas pedagógicas?
As práticas pedagógicas se organizam intencionalmente para atender a determinadas expectativas educacionais solicitadas/requeridas por uma dada comunidade social.
Sua representatividade e seu valor advêm de pactos sociais, de negociações e deliberações com um coletivo.
Ou seja, as práticas pedagógicas se organizam e se desenvolvem por adesão, por negociação, ou, ainda, por imposição.
Essas formas de concretização das práticas produziram faces diferentes para a perspectiva científica da Pedagogia.
Mas há que se lembrar de que mesmo as grandes imposições sobre a organização das práticas têm “tempo de validade”.
Se se considerar a realidade social e sua natureza essencialmente dialética, é preciso acreditar na dinâmica posta pelas contradições.
Tudo se transforma; tudo é imprevisível; e a linearidade não cabe nos processos educativos.
Toda prática docente é prática pedagógica?
Nem sempre!
A prática docente configura-se como prática pedagógica quando esta se insere na intencionalidade prevista para sua ação.
Assim, um professor que sabe qual é o sentido de sua aula em face da formação do aluno, que sabe como sua aula integra e expande a formação desse aluno, que tem a consciência do significado de sua ação, tem uma atuação pedagógica diferenciada.
Ele dialoga com a necessidade do aluno, insiste em sua aprendizagem, acompanha seu interesse, faz questão de produzir o aprendizado, acredita que este será importante para o aluno.
Existe prática pedagógica fora das escolas, além das salas de aula?
A pedagogia e suas práticas são da ordem da práxis.
Assim ocorrem em meio a processos que estruturam a vida e a existência.
A pedagogia caminha por entre culturas, subjetividades, sujeitos e práticas.
Caminha pela escola, mas a antecede, acompanha-a e caminha além.
A pedagogia interpõe intencionalidades, projetos alargados.
A didática, paralelamente, compromete-se a dar conta daquilo que se instituiu chamar de saberes escolares.
A lógica da didática é a lógica da produção da aprendizagem (nos alunos), a partir de processos de ensino previamente planejados.
A prática da didática é, portanto, uma prática pedagógica, que inclui a didática e a transcende.
Quando se fala em prática pedagógica, refere-se a algo além da prática didática.
Que envolve as circunstâncias da formação, os espaços-tempos escolares, as opções da organização do trabalho docente, as parcerias e expectativas do docente.
Ou seja, na prática docente estão presentes não só as técnicas didáticas utilizadas.
Mas, também, as perspectivas e expectativas profissionais, além dos processos de formação e dos impactos sociais e culturais do espaço ensinante, entre outros aspectos que conferem uma enorme complexidade a este momento da docência.
O planejamento do ensino, por mais eficiente que seja, não poderá controlar a imensidão de aprendizagens possíveis que cercam um aluno.
Como saber o que o aluno aprendeu?
Como planejar o próximo passo de sua aprendizagem?
Precisamos de planejamento prévio de ensino ou de acompanhamento crítico e dialógico dos processos formativos dos alunos?
Evidentemente, precisamos de ambos!
As práticas pedagógicas devem se estruturar como instâncias críticas das práticas educativas, na perspectiva de transformação coletiva dos sentidos e significados das aprendizagens.
O professor, no exercício de sua prática docente, pode ou não se exercitar pedagogicamente.
Ou seja, sua prática docente, para se transformar em prática pedagógica, requer, pelo menos, dois movimentos.
O da reflexão crítica de sua prática e o da consciência das intencionalidades que presidem suas práticas.
A consciência ingênua de seu trabalho impede-o de caminhar nos meandros das contradições postas.
E, além disso, impossibilita sua formação na esteira da formação de um profissional crítico.
O que caracteriza uma prática pedagógica
É interessante especificar os princípios que organizam uma prática pedagógica na perspectiva crítica.
E tais intencionalidades serão perseguidas ao longo do processo didático, de formas e meios variados.
Na práxis, a intencionalidade rege os processos.
Para a filosofia marxista, práxis é entendida como a relação dialética entre homem e natureza.
Na qual o homem, ao transformar a natureza com seu trabalho, transforma a si mesmo.
A compreensão dessa práxis é tarefa pedagógica.
A práxis é a esfera do ser humano.
Portanto, não é uma atividade prática contraposta à teoria.
É determinação da existência como elaboração da realidade.
Uma intervenção pedagógica, como instrumento de emancipação, considera a práxis uma forma de ação reflexiva que pode transformar a teoria que a determina, bem como transformar a prática que a concretiza.
Uma característica importante é o caráter finalista da práxis, antecipador dos resultados que se quer atingir.
E importante, portanto, realçar que a práxis permite ao homem conformar suas condições de existência, transcendê-las e reorganizá-las.
Só a dialética do próprio movimento transforma o futuro, e essa dialética carrega a essencialidade do ato educativo.
Ou seja, a intencionalidade coletivamente organizada e em contínuo ajuste de caminhos e práticas.
Talvez o termo mais adequado seja “insistência”.
O professor não pode desistir do aluno.
Há que insistir, ouvir, refazer, fazer de outro jeito.
Acompanhar a lógica do aluno; descobrir e compreender as relações que esse aluno estabelece com o saber.
Mudar o enfoque didático, as abordagens de interação, os caminhos do diálogo.
Caminham numa perspectiva dialética, pulsional, totalizante.
Quando o professor chega a um momento de produzir um ensino em sala de aula, muitas circunstâncias estão presentes: desejos, formação, conhecimento do conteúdo, conhecimento das técnicas didáticas, ambiente institucional, práticas de gestão, clima e perspectiva da equipe pedagógica, organização espaço-temporal das atividades, infraestrutura, equipamentos, quantidade de alunos, organização e interesse dos alunos, conhecimentos prévios, vivências, experiências anteriores, enfim, há muitas variáveis.
Muitas dessas circunstâncias podem induzir a boa interação e bom interesse e diálogo entre as variáveis do processo – aluno, professor e conhecimento – o triângulo pedagógico.
Como atua o professor?
Como aproveita os condicionantes favoráveis e anula os que não ajudarão na hora?
Tudo exige do professor reflexão e ação.
Tudo exige um comportamento compromissado e atuante.
Tudo nele precisa de empoderamento.
As práticas impõem posicionamento, atitude, força e decisão.
Fundamentalmente, é exigido do professor que trabalhe com as contradições.
O professor está preparado para isso?
A ausência da reflexão, o tecnicismo exagerado, as desconsiderações aos processos de contradição e de diálogo podem resultar em espaços de engessamento das capacidades de discutir/propor/mediar concepções didáticas.
A ausência do espaço pedagógico pode significar o crescimento do espaço de dificuldade ao diálogo.
Sabe-se que o diálogo só ocorre na práxis, a qual requer e promove a ultrapassagem e a superação da consciência ingênua em consciência crítica.
Talvez a prática pedagógica, absorvendo, compreendendo e transformando as resistências e resignações, possa mediar a superação dessas, em processos de emancipação e aprendizagens.
Só a ação docente, realizada como prática social, pode produzir saberes, saberes disciplinares, saberes referentes a conteúdos e sua abrangência social.
Ou mesmo saberes didáticos, referentes às diferentes formas de gestão de conteúdos, de dinâmicas da aprendizagem, de valores e projetos de ensino.
O saber pedagógico só pode se constituir a partir do próprio sujeito, que deverá ser formado como alguém capaz de construção e de mobilização de saberes.
Não basta fazer uma aula.
É preciso saber por que tal aula se desenvolveu daquele jeito e naquelas condições.
Ou seja, é preciso compreensão e leitura da práxis.
Quando um professor é formado de modo não reflexivo, não dialógico, desconhecendo os mecanismos e os movimentos da práxis, não saberá potencializar as circunstâncias que estão postas à prática.
Ele desistirá e replicará fazeres.
O sujeito professor precisa ser dialogante, crítico e reflexivo, bem como ter consciência das intencionalidades que presidem sua prática.
E implicam tomadas de decisões, de posições e se transformam pelas contradições.
A questão primacial é que tais práticas não podem ser congeladas, reificadas e realizadas linearmente.
Porque são práticas que se exercem na interação de sujeitos, de práticas e de intencionalidades.
As práticas pedagógicas estruturam-se em mecanismos paralelos e divergentes de rupturas e conservação.
Enquanto diretrizes de políticas públicas consideram a prática pedagógica como mero exercício reprodutor de fazeres e ações externos aos sujeitos, estas se perdem.
Por que não conseguimos mudar a prática?
A prática não muda por decretos ou por imposições.
Ela pode mudar se houver o envolvimento crítico e reflexivo dos sujeitos da prática.
Sabe-se que a educação é uma prática social humana.
É um processo histórico, inconcluso, que emerge da dialeticidade entre homem, mundo, história e circunstâncias.
Sendo um processo histórico, a educação não poderá ser vivenciada por meio de práticas que desconsideram sua especificidade.
Os sujeitos sempre apresentam resistências para lidar com imposições que não abrem espaço ao diálogo e à participação.
Sabe-se que a educação, como prática social e histórica, transforma-se pela ação dos homens e produz transformações naqueles que dela participam.
Destaca-se a necessidade de considerar o caráter dialético das práticas pedagógicas, no sentido de a subjetividade construir a realidade, que se modifica mediante a interpretação coletiva.
As práticas pedagógicas serão, a cada momento, expressão do momento e das circunstâncias atuais e sínteses provisórias que se organizam no processo de ensino.
As situações de educação estão sempre sujeitas às circunstâncias imprevistas, não planejadas e, dessa forma, os imprevistos acabam redirecionando o processo.
E, muitas vezes, permitindo uma reconfiguração da situação educativa.
Portanto, o trabalho pedagógico requer espaço de ação e de análise ao não planejado, ao imprevisto, à desordem aparente, e isso deve pressupor a ação coletiva, dialógica e emancipatória entre alunos e professores.
É por isso que se reafirma que práticas pedagógicas requerem que o professor adentre na dinâmica e no significado da práxis, de forma a poder compreender as teorias implícitas que permeiam as ações do coletivo de alunos.
A prática precisa ser tecida e construída a cada momento e a cada circunstância.
Professora!!! Seu trabalho é excelente!!! Para bens””
muito bom , obrigado pela ajuda
muito bom professora….me ajudou bastante!
uaaauu, este e um resumo muito intessante
Enorme contributo para o conhecimento académico. Valeu, ilustre Professora. Continue.
Gostei muito do conteúdo.
Muito bom
Ótimo conteúdo. Excelentes reflexões. Parabéns!