Darcy Ribeiro nasceu na cidade de Montes Claros (MG), em 26 de outubro de 1922.

Em 1939 mudou-se para Belo Horizonte, onde ingressou na Faculdade de Medicina.

No início da década de 1940 iniciou militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB), então Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Sem vocação para a carreira médica, abandonou a faculdade em 1943, retornando a Montes Claros.

No ano seguinte, transferiu-se para a capital paulista e matriculou-se na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, por onde se graduou em 1946, com especialização em etnologia.

Em 1947 ingressou no Serviço de Proteção ao Índio (SPI), travando contato com o marechal Cândido Mariano Rondon, então presidente do Conselho Nacional de Proteção ao Índio.

Em 1952 empenhou-se na elaboração de um projeto de lei que procurava garantir aos índios a posse coletiva e inalienável de suas terras – proposta que, sob forte oposição, sequer chegou a ser apreciada pelo Congresso.

Por sua iniciativa foi inaugurado em 1953, no Rio de Janeiro, o Museu do Índio, apontado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como modelo no setor etnológico, por ser o primeiro do mundo a ser organizado com o objetivo de quebrar o preconceito com relação aos índios e difundir sua cultura.

Outro importante momento de seu trabalho foi a formulação de um projeto para a criação do Parque Indígena do Xingu, que viria ser implantado anos mais tarde sob a direção dos indianistas Orlando e Cláudio Vilas-Boas.

Ainda em 1953, ingressou como professor na Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP), da Fundação Getúlio Vargas, onde durante dois anos lecionou etnologia brasileira.

Com a eleição de Juscelino Kubitschek em outubro de 1955 para a presidência da República, Darcy Ribeiro foi convidado a colaborar na elaboração das diretrizes para o setor educacional do novo governo.

Trabalhou então com o pedagogo Anísio Teixeira, que exerceria forte influência sobre a sua formação.

Nessa época, deixou a direção da seção de estudos do SPI e passou a integrar o corpo docente da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (atual Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro), ficando responsável pelas cadeiras de etnologia brasileira e língua tupi-guarani.

Designado por Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro passou a dirigir em 1957 a divisão de estudos sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), vinculado ao Ministério da Educação.

Ali orientou pesquisas socioantropológicas sobre os efeitos sociais dos processos de industrialização e urbanização no Brasil.

Sob sua direção, o CBPE passou a publicar a Revista de Educação e Ciências Sociais.

Na mesma época participou ativamente, junto com Anísio Teixeira, da campanha em defesa da escola pública, procurando interferir no processo de elaboração da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação, em discussão no Congresso.

Em 1959, através de um decreto presidencial, Darcy foi encarregado de planejar a montagem da Universidade de Brasília (UnB), tarefa para a qual convocou um grupo de cientistas e pesquisadores, a maioria pertencentes à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Em 1961, com a inauguração da UnB, Darcy foi nomeado seu primeiro reitor.

Em agosto de 1962, Darcy Ribeiro assumiu o Ministério da Educação e Cultura em substituição a Roberto Lira, compondo o gabinete chefiado pelo primeiro-ministro Hermes Lima.

Deixou então a reitoria da UnB, onde foi substituído por Anísio Teixeira.

Como ministro da Educação, criou o Fundo Nacional de Ensino e determinou a aplicação de 12% da receita da União no aperfeiçoamento e desenvolvimento do ensino, o que, embora constitucionalmente previsto, só ocorreu de fato durante sua gestão.

Em janeiro de 1963, por ocasião do retorno do país ao regime presidencialista, Darcy Ribeiro deixou o Ministério da Educação e Cultura, onde foi substituído por Teotônio Monteiro de Barros Filho, para assumir a chefia do Gabinete Civil da Presidência da República, em substituição a Evandro Lins e Silva.

No exílio, lecionou antropologia na Universidade da República Oriental do Uruguai, em Montevidéu, e desenvolveu uma série de trabalhos relacionados com o sistema universitário, entre os quais a organização e direção do Seminário de Reforma da Universidade da República e a organização da Enciclopédia de Cultura do Uruguai.

Por essa época começou a escrever os seus Estudos de antropologia da civilização, obra constituída por cinco volumes publicados ao longo de vários anos, na qual procurou estabelecer uma interpretação global do processo de formação dos povos americanos, particularmente o brasileiro, e das causas de seu desenvolvimento desigual.

Em 1976 retornou definitivamente ao Brasil, fixando-se no Rio de Janeiro.

No ano seguinte, participou da XXIX Reunião Anual da SBPC, realizada em São Paulo, onde analisou o sistema educacional brasileiro e fez severas críticas ao Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), declarando que as verbas gastas por esse órgão para a alfabetização de adultos deveriam ser concentradas no ensino fundamental, uma vez que milhares de crianças no país continuavam privadas de acesso à escola primária, situação que, segundo Darcy, produziria uma nova geração de adultos analfabetos.

No início de 1979 publicou o seu primeiro romance, Maíra, logo traduzido para outros idiomas e sucessivamente reeditado em português.

Ainda em 1979, foi eleito membro do conselho diretor da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso) e recebeu, em Paris, o título de doutor honoris causa da Sorbonne, título que durante sua vida lhe foi concedido também por várias outras instituições, tais como a Universidade de Copenhague, a Universidade da República Oriental do Uruguai, a Universidade Central da Venezuela e a Universidade de Brasília.

Em março de 1982, Darcy Ribeiro foi lançado candidato a vice-governador do Rio de Janeiro na legenda do PDT, na chapa encabeçada por Leonel Brizola. Empossado como vice-governador, Darcy acumulou ainda no novo governo o cargo de secretário estadual de Ciência e Cultura, além de coordenar o Programa Especial de Educação, cuja principal meta era a implantação dos centros integrados de Educação Pública (CIEPs).

Idealizados por Darcy, os CIEPs eram unidades de ensino básico voltadas prioritariamente para a população de baixa renda e previstas para funcionar em regime de turno integral, onde as crianças, além da educação tradicional, recebiam ainda alimentação e assistência médica, e participavam de atividades de cultura e lazer.

O projeto inicial do governo fluminense era o de construir quinhentos CIEPs ao longo de quatro anos, com investimentos superiores a um bilhão de dólares.

Ao fim do governo, porém, somente 127 unidades estavam em funcionamento.

Entre as iniciativas de Darcy Ribeiro neste período, destacam-se também: a criação da Fábrica de Escolas, voltada para a implantação dos CIEPs; a criação da Biblioteca Pública Estadual e da Casa de Cultura Laura Alvim; o apoio à implantação da Casa França-Brasil; a construção do Sambódromo, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e destinado à realização do desfile oficial das escolas de samba, sendo ainda aproveitado no resto do ano para abrigar escolas de primeiro e segundo graus.

Ainda em setembro Darcy foi convidado pelo governador de São Paulo, Orestes Quércia, do PMDB, para colaborar com Oscar Niemeyer no planejamento cultural do Memorial da América Latina, inaugurado em janeiro de 1989.

Em outubro de 1990, Darcy Ribeiro foi eleito senador pelo estado do Rio de Janeiro na legenda do PDT.

Sua atividade parlamentar privilegiou temas relacionados à realidade educacional do país, em particular a elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

Outra iniciativa importante de Darcy no Senado foi a apresentação do projeto que deu origem à lei de transplantes de órgãos, segundo a qual todos aqueles que, em vida, não registrassem legalmente a sua condição de não- doadores de órgãos seriam considerados potenciais doadores após a morte.

Em setembro de 1991, Darcy licenciou-se de seu mandato no Senado para assumir a secretaria estadual de Projetos Especiais de Educação do governo fluminense, cujo principal objetivo era promover a retomada da implantação dos CIEPs, bem como colaborar na implantação de sua versão em âmbito federal, os centros integrados de Apoio à Criança (CIACs), criados pelo governo Collor.

Em outubro de 1992, Darcy Ribeiro foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, passando a ocupar a cadeira nº 11 a partir de abril do ano seguinte.

Passou, então, a concentrar sua atividade na elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

O projeto apresentado nesse sentido por Darcy substituiu um outro, preliminarmente aprovado na Câmara em 1993, cuja discussão se iniciara logo após a promulgação da Constituição de 1988 e arrastara-se por vários anos, envolvendo parlamentares e entidades representativas do setor educacional.

Na sua avaliação, a LDB deveria assumir a forma de “um diploma legal sucinto, claro e genérico, para dar espaço ao exercício da autonomia tanto pelas escolas e universidades como pelos sistemas estaduais de ensino”.

A nova lei abstinha-se de criar conselhos com funções normativas por entender ser essa uma prerrogativa do Poder Executivo, que deveria ficar responsável ainda pelo estabelecimento de critérios para uma avaliação nacional do ensino em todos os níveis.

No ensino fundamental, a principal novidade introduzida pela nova LDB foi a exigência de formação universitária para todos os professores, inclusive os responsáveis pelo chamado curso primário — ou primeiro segmento do primeiro grau — para os quais, até então, era exigido apenas um curso de formação de professores, o curso normal, equivalente aos cursos técnicos de nível secundário.

As instituições de ensino universitário, por sua vez, passaram a desfrutar de maior autonomia para estruturarem sua grade curricular, estando, porém, obrigadas a apresentarem resultados satisfatórios nas avaliações de desempenho a serem regularmente promovidas pelo Ministério da Educação, sob pena de perderem seus registros de funcionamento.

Aplaudida pelo ministro da Educação Paulo Renato Sousa, a nova LDB foi aprovada pelo Congresso em dezembro de 1996 e sancionada no mesmo mês pelo presidente Fernando Henrique que, em homenagem ao senador fluminense, batizou-a de Lei Darcy Ribeiro.

Durante o ano de 1996 manteve uma coluna semanal no jornal Folha de S. Paulo e recebeu inúmeras homenagens.

Em julho recebeu das mãos do presidente Fernando Henrique o Prêmio Anísio Teixeira, concedido pelo governo federal àqueles com atuação destacada na área educacional.

Em dezembro foi agraciado com o Prêmio Sérgio Buarque de Holanda na categoria ensaio social, concedido pela Biblioteca Nacional, pelo seu livro Diários índios, publicado naquele ano, no qual relata sua experiência junto aos índios urubu-caapor.

Ainda em 1996 recebeu o Prêmio Interamericano de Educação Andrés Bello, concedido pela Organização dos Estados Americanos (OEA).

Em janeiro de 1997 foi agraciado com o título de “Homem de Ideias”, concedido pelo Jornal do Brasil.

Faleceu em 17 de fevereiro de 1997, na capital federal.