Droga perversa para uns, tabua de salvação para outros, o metilfenidato, aqui no Brasil conhecido como Ritalina teve um aumento estrondoso.

A Ritalina é o medicamento mais utilizado para eliminar problemas de comportamento na escola.

No Brasil, a venda da Ritalina ou “droga da obediência”– nome popular pelo qual ficou conhecida – foi de 70.000 caixas no ano 2000 para a 1.700.000 caixas em 2009.

Esse aumento veio junto com os inúmeros diagnósticos de TDAH.

Não raramente tem alunos sendo diagnosticados com TDAH sem de fato ter.

 

Os perigos da medicalização do processo de ensino-aprendizagem

É importante ter cuidado em biologizar as questões sociais.

Isso significa que, precisamos ter cuidado em deslocar o eixo de uma discussão que deve ser político-pedagógica para causas e soluções pretensamente médicas, e por isso, inacessíveis à educação.

Isso é a chamada medicalização do processo ensino-aprendizagem.

Com a medicalização dos processos escolares as soluções são transferidas para o campo da saúde.

E isenta-se o contexto escolar da responsabilidade por essa condição.

Criando ou ampliando um novo mercado de trabalho para avaliar, diagnosticar e tratar doenças no processo ensino aprendizagem.

Essa medicalização aponta o problema do ensino para o próprio aluno.

Como se o ensino não fosse uma relação dialógica entre professor e aluno.

Essa é uma das consequências da terceirização do ensino.

A isenção do Estado de responsabilidade pela condição de vida da sociedade e responsabilização do indivíduo pelos problemas que ocorrerem com ele.

Os efeitos da Ritalina

É importante considerar que a Ritalina é um psicotrópico de curta duração e apresenta efeitos colaterais visíveis.

A Ritalina possui um efeito de toxicidade no organismo do indivíduo.

O que significa que o uso prolongado desse medicamento provoca no organismo e na vida social muito mais efeitos prejudiciais do que os efeitos benéficos.

Apesar de, por um curto prazo, haver uma melhora da capacidade de concentração e da disciplina em sala de aula, esse tipo de melhora ocorre ao custo de o aluno se tornar apático e isolado do ambiente escolar e da relação com os colegas de sala.

Os efeitos a longo prazo do uso dessas drogas são de dimensões desconhecidas e incertas.

O que leva a questionar a ética nesse tipo de prática social.

A Ritalina possui o mesmo mecanismo de ação que drogas como, por exemplo, a cocaína.

Promovendo a curto prazo uma sensação de bem-estar e melhora no rendimento.

Além disso, a dependência causada pelo uso desses medicamentos faz com que (não) se conheça a dimensão das consequências futuras desse processo na vida posterior de alunos assim “medicados”.

O que tem por trás do uso desenfreado da Ritalina

É difícil admitir que a consequência do uso desses medicamentos não seja apenas a melhora da aprendizagem e do comportamento do aluno.

O uso desenfreado desse medicamento visa também um controle social.

Controle esse que pode vir a responder a necessidades ideológicas ou de outra ordem.

As implicações do processo de medicalização para a infância também são de dimensões ainda não explicadas.

É possível que os medicamentos estejam prejudicando aspectos importantes da infância.

Como o de se apropriar da qualidade nas suas relações pessoais ou sociais.

Partindo de considerações como essas, é possível questionar se na sociedade em que vivemos atualmente a qualidade das relações é importante.

Controlar o comportamento dos indivíduos ultrapassa a necessidade mais superficial de atender aos problemas de comportamento e aprendizagem dos alunos.

A prática social da medicalização dos problemas de comportamento de alunos nas instituições escolares se torna uma prática social de controle.

Uma vez que com essa ação se buscam objetivos materiais ideológicos.

Esse tipo de prática não consegue responder às demandas da instituição escolar para os problemas de comportamento dos alunos.

Discussões necessárias

É preciso repensar o uso de medicações como única saída possível para problemas de comportamento.

Não se trata de negar o uso de medicações quando elas são necessárias.

Mas propor uma reflexão maior: quando elas são necessárias? E por que?

Em algumas situações comportamentos como indisciplina, desobediência ou dificuldade de concentração, é na verdade fruto da falta de diálogo da instituição escolar com aquilo que tem mais significado para formação da subjetividade destas crianças, seus interesses e desejos mais profundos.

É preciso compreender o ser de forma integral.

Considerando seus aspectos fisiológicos, emocionais e sociais.

Não podemos ignorar nenhuma destas dimensões muito menos o fato de que elas são completamente indissociáveis.

A mente, o cérebro e a cultura estão o tempo todo dialogando.

Exercendo e sofrendo influência um sobre o outro, a todo momento, como vias de mão dupla.

O ser não pode ser concebido por uma única perspectiva.