O diagrama V foi inicialmente proposto por Gowin como instrumento para análise de artigos e livros com a intenção de “desempacotar” o conhecimento neles contido.
Na visão de Gowin, o processo de pesquisa leva à tríade: evento-fato-conceito.
E o formato V permite visualizar a ligação entre um evento de pesquisa, seu domínio conceitual e os resultados.
A base dos diagramas V está na crença de que todo material instrucional está formado sobre uma rede de significados envolvendo os conceitos, as teorias, os eventos, as questões, os dados, sua análise e interpretação.
E esta rede forma asserções de conhecimento e valor.
O papel do digrama V é explicar toda esta relação de maneira sucinta.
A ligação no V é explicitada, pois a pesquisa (lado direito) é guiada pelo existente antes dela (lado esquerdo).
Tal pesquisa pode gerar novos conceitos, teorias ou princípios, ligando novamente os dois lados do V.
O fato da questão estar no centro do diagrama mostra como ela integra e relaciona seus dois polos.
Entretanto, ela é o ponto central do projeto de pesquisa
Entendendo o V
O lado esquerdo do V epistemológico se refere ao domínio teórico-conceitual do processo de produção do conhecimento.
Ali estão os conceitos, propriamente ditos, com os quais podem ser gerados princípios e leis.
Que, por sua vez, podem ser organizados em teorias que têm sistemas de crenças, ou filosofias, subjacentes.
Esse lado do V corresponde ao “pensar”.
Na base do V estão objetos a serem estudados ou eventos que acontecem naturalmente.
Ou que se faz acontecer a fim de fazer registros através dos quais os fenômenos de interesse possam ser estudados.
O lado direito do V corresponde ao domínio metodológico na produção de conhecimento.
A partir dos registros dos eventos chega-se a dados.
Por meio de transformações como atribuição de parâmetros, índices, coeficientes.
Os dados sofrem novas transformações metodológicas.
Como por exemplo gráficos, correlações e categorizações.
Que servem de base para a formulação de asserções de conhecimento.
Ou seja, o conhecimento produzido em resposta à(s) questão(ões)-foco.
Esse lado do V é o “fazer”.
Observe, no entanto, que há uma permanente interação entre os dois lados.
De modo que tudo o que é feito no lado metodológico é guiado por conceitos, princípios, teorias e filosofias do lado teórico conceitual.
Reciprocamente, novas asserções de conhecimento podem levar a novos conceitos, à reformulação de conceitos já existentes ou, ocasionalmente, a novos princípios, teorias e filosofias.
No caso de uma pesquisa qualitativa, muitas vezes, a teoria vai sendo construída ao longo do processo.
Mas, ainda assim, permanece, dialeticamente, a interação pensar-fazer, ou teoria-metodologia.
As questões-foco: questões básicas ou questões-chave
Estão no centro do V porque, a rigor, pertencem tanto ao domínio teórico-conceitual como ao metodológico.
A questão-foco de um estudo é aquela que não somente pergunta alguma coisa mas também diz algo.
É a questão que identifica o fenômeno de interesse.
De tal forma que é provável que alguma coisa seja construída, medida ou determinada ao respondê-la.
É a pergunta que informa sobre o ponto central de um estudo, de uma pesquisa.
Ela diz o que, em essência, foi estudado, pesquisado.
É importante frisar que, a questão-foco não é o mesmo que hipótese.
A hipótese é um enunciado técnico do tipo “se…então”, “mudando tal condição então acontecerá isso ou aquilo”.
A questão-foco é uma questão que organiza e dirige o pensamento que dá sentido ao que está sendo feito.
A formulação e testagem de hipóteses está vinculada ao conhecimento técnico.
Enquanto que, a busca de respostas a questões-foco leva à produção de conhecimento.
Para que serve o V de Gowin
Uma das possíveis utilizações do diagrama V reside na análise de currículo escolar.
Sendo asserções de conhecimentos e de valor sob análise conceitual e pedagógica.
O currículo, na visão de Gowin, está documentado na forma de livros, artigos, ensaios, entre outros.
E podem ser chamados de materiais curriculares.
O currículo deve ser analisado de maneira minuciosa e crítica, potencializando sua utilização de maneira instrucional.
Mais sobre o uso do V epistemológico no currículo pode ser lido aqui.
Um importante auxílio que pode ser prestado pelos diagramas V, se refere a fase de planejamento de um curso, aula expositiva, experimento entre outros.
O professor pode usar o diagrama V para esclarecer a relação entre o domínio conceitual do evento planejado e de sua metodologia.
Outra possível alternativa de utilização dos V se refere ao processo avaliativo.
Tal qual o mapa conceitual, o uso de diagramas V, neste processo, não tenderá a fazer da avaliação um processo verificador ou de diagnóstico.
Pois implica conhecer as condições atuais e reais do aprendente, de forma a lhe favorecer avanços e superações.
As intervenções do professor ou auto regulações dos alunos podem ocorrer em tempo real por efetivarem-se concomitantemente ao levantamento de dados na prática avaliativa e sua análise.
Ao ocorrer em tempo real, não deixa para depois a superação e a aprendizagem.
Nesta alternativa, os alunos terão de refletir e procurar relações entre a tríade evento-fato-conceito para a produção de seu diagrama V.
Sendo assim, pode-se esperar a aprendizagem significativa tendo maiores chances de ser implementada em comparação a testes objetivos.
Outra utilização dos diagramas V se refere às aulas de laboratórios didáticos.
Potencializa os laboratórios didáticos na busca de uma aprendizagem significativa em um curso técnico, analisando se tais práticas logravam este objetivo.
Outra possibilidade é a substituição de relatórios referentes à experimentos em aulas de laboratório didático por diagramas V.
Mais sobre o uso em atividades experimentais pode ser lido aqui.
Além disso, é muito útil na estruturação do argumento de dissertações e teses.
Parabéns Teresa Nunes.Foi bem esclarecedor o seu artigo!