A reformulação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ainda está em desenvolvimento em decorrência da reforma do ensino médio.
Neste final de fevereiro foi apresentada a proposta preliminar, ainda a ser votada, para o ensino médio com apenas duas disciplinas obrigatórias.
O documento, que será concluído até o fim de março, também não vai abordar a parte flexível do currículo, prevista pela reforma do ensino médio.
Segundo a lei aprovada no ano passado, cerca de 40% da carga horária da etapa será destinada ao aprofundamento em áreas específicas optativas.
O currículo do novo ensino médio será norteado pela Base Nacional Comum Curricular.
Obrigatória e comum a todas as escolas (da educação infantil ao ensino médio).
A BNCC definirá as competências e conhecimentos essenciais que deverão ser oferecidos a todos os estudantes na parte comum (1.800 horas).
E abrangerá as 4 áreas do conhecimento.
Bem como todos os componentes curriculares do ensino médio definidos na LDB e nas diretrizes curriculares nacionais de educação básica.
Por exemplo, a área de ciências humanas compreende história, geografia, sociologia e filosofia.
Mas as disciplinas obrigatórias nos 3 anos de ensino médio serão apenas língua portuguesa e matemática.
O restante do tempo será dedicado ao aprofundamento acadêmico nas áreas eletivas.
Ou a cursos técnicos, divididos em itinerários.
Cada estado deverá organizar seus currículos considerando a BNCC e as demandas dos alunos.
Ou seja, as demais disciplinas não obrigatórias ficam sob a responsabilidade do currículo estadual.
A justificativa para essa mudança nas disciplinas obrigatórias no ensino médio é a de que a interdisciplinaridade, como é proposto trabalhar as demais disciplinas, é tendência no mundo todo.
Como por exemplo no exame (internacional) do Pisa, o qual o conhecimento é avaliado de maneira integrada.
Além de que, os jovens teriam mais possibilidades de formação.
Um caminho perigoso
Essa obrigatoriedade de ter apenas língua portuguesa e matemática é um caminho um tanto perigoso.
É preciso tomar cuidado para não induzir que apenas estas disciplinas são importantes.
Além disso, as demais disciplinas que serão oferecidas em caráter interdisciplinar e optativo correm o risco de não serem trabalhadas com qualidade, uma vez que não são obrigatórias e por sua vez não serão avaliadas.
Ou ainda, considerando o nível de precariedade que funciona o ensino médio público do Brasil, esse tipo de resolução é um caminho a não ter essas disciplinas na escola.
Não especificar os itinerários formativos é deixar os direitos de aprender ao campo da incerteza.
Como se esses aspectos não fossem problemáticos o suficiente, tem outro ponto que vale a pena considerar: a interdisciplinaridade.
Qual professor, que está em atuação ou ainda se formando, está apto a trabalhar de maneira interdisciplinar?
Como implantar disciplinas interdisciplinares em um sistema de ensino que não prioriza a troca, a construção coletiva, e sim os resultados, o tempo, os conteúdos a serem cumpridos?
Que tipo de formação será necessário aos professores das demais disciplinas não obrigatórias para trabalhar de acordo com o BNCC?
São tempos difíceis para a educação.
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