A aprendizagem emocional é um aspecto esquecido na aprendizagem escolar e de fundamental importância para a vida do aluno.
As escolas e os professores deveriam também proporcionar condições de aprendizagem emocional.
Isso porque, enquanto professores, nossa missão social é não só trabalhar aspectos cognitivos, mas também com as emoções.
As emoções estão interligadas com os aspectos cognitivos e refletem diretamente no resultado do ensino-aprendizado.
Então por que quase não se fala nisso?
Neuropedagogicamente podemos citar três tipos de estratégias de crescimento emocional que podem contribuir para educação emocional e cognitiva.
E sobre elas que vamos falar nesse post.
Fomentar conexões emocionais com as matérias a serem aprendidas
Ou seja, envolver as experiências educacionais que encorajem conexões relevantes com os conteúdos a serem aprendidos e com formas cooperativas, sérias, responsáveis e criativas de selecionar.
Envolver também a participação ativa dos alunos, tópicos ou temas de pesquisa em pequenos grupos, com calendários e processos de planificação, execução e exposição devidamente acordados.
Tais estratégias podem ser concretizadas com a realização de um ensaio.
Ou por meio de um relatório a ser apresentado e debatido na sala de aula com toda a turma.
Ou ainda, de modo mais elaborado, sobre a forma de uma apresentação em “Power Point” ou em vídeo.
Esse ensaio ou relatório visa integrar dados de pesquisa na Internet, leituras críticas de livros, revistas e jornais.
Ou mesmo, com base em entrevistas com pessoas especializadas nos temas em estudo.
Desta forma responsável e comprometida, os estudantes tendem a investir mais em termos emocionais.
E em termos de competências de participação, de comunicação e de busca e pesquisa de conexões inter e transdisciplinares.
A aprendizagem nessa perspectiva visa produzir mais aprendizagens significativas e maior potencialidade emocional para aprendizagens futuras.
Isso porque são centradas nos interesses, nas paixões e nas experiências vividas pelos próprios alunos.
Ajudando-os a aprofundar e a visualizar a relevância e a utilidade dos conteúdos das matérias.
E das competências a aprender, confrontando-as com as situações concretas das suas vidas diárias.
Aprender com engajamento e compromisso emocional ensina os estudantes a resolver problemas.
E os levam a discutir e a lutar pela definição das tarefas a concretizar.
Assim como, a realizar, a recrutar, a recolher, a reorganizar e a discutir com as suas intuições pessoais a relevância das fontes de informação lidas e classificadas, etc.
Em outras palavras, é implementar um processo de aprendizagem ativo, criativo e motivante.
Elaborar portfólios, dossiers, projetos e ensaios numa dinâmica de cooperação-responsabilização ajuda os alunos a compreenderem a riqueza emocional da construção e co-construção do conhecimento.
Além de criar espaços para a interação social.
E gerar condições pedagógicas para aprender com os erros num clima de segurança e de pertencimento.
Desta forma, o ensino desvia-se do mero depósito direto, rápido, frontal e frio do conhecimento.
E da pobreza emocional com que, frequentemente, se transmite cultura.
E dessa forma mais pedagógica torna-se o ensino muito mais compatível com o cérebro único dos estudantes.
Os resultados que advêm de um ensino compatível com as emoções e as cognições dos alunos tornam-se mais ricos para as suas personalidades e motivações intrínsecas.
Permitem acumular memórias mais profundas e límbicas.
E claramente, desenvolvem um potencial de aprendizagem mais versátil emocionalmente e cognitivamente.
Numa época em que o ensino se enfoca em despejar matérias, em valorizar o estudo só para exames, em publicar “ranking lists” e exigir desempenhos padronizados e seletivos, para além de se caracterizar por currículos empacotados e abarrotados, a ideia de sugerir um ensino mais compatível com a natureza do funcionamento do cérebro dos estudantes parece heterodoxa.
Mas numa perspectiva das neurociências educacionais é aquela que parece oferecer mais garantias para o futuro das suas vidas.
Encorajar os estudantes a desenvolver intuições escolares inteligentes
Esta estratégia prende-se com a promoção e enriquecimento do pensamento intuitivo e estratégico dos estudantes.
Na medida em que se torna hoje, numa sociedade global em mudança acelerada, cada vez mais necessário potenciar a criatividade e o raciocínio crítico dos alunos.
Aprender a colocar perguntas relevantes, saber questionar e dispor de instrumentos mentais analíticos, são condições críticas para desenvolver, aprofundar e criar conhecimento.
Utilizar e treinar o pensamento intuitivo é uma plataforma cognitiva excelente para estabelecer generalizações.
E para transferir conceitos e estratégias da vida acadêmica para novas situações e novos problemas da vida real e concreta.
A aprendizagem pode ser concebida como uma maratona longa.
E para percorrer com sucesso os currículos devem ser construídos no sentido de criarem mais oportunidades para as funções intuitivas e conativas.
E para as funções cognitivas e executivas dos estudantes.
Os estudantes precisam passar pelo sentimento de que estudam para sentirem em si próprio.
O sentimento de “Eu crio, logo existo”.
As escolas não existem para rebaixar a intuição ou para ridicularizar a criatividade das crianças e dos jovens.
Pelo contrário, como organizações de aprendizagem que são, devem apostar mais na intuição e na emoção.
Pois só com elas as aprendizagens significativas e relevantes se fixam e incorporam no cérebro.
A nossa memória de longo prazo, que consubstancia neurofuncionalmente as nossas aprendizagens mais importantes e engrandecedoras da nossa personalidade, permite-nos recuperá-las, reclamá-las e aplicá-las a novas situações, exatamente porque elas estão entranhadas corporeamente e emocionalmente.
Só com tais ingredientes afetivos e conativos o auto-aperfeiçoamento é treinado e expandido.
A intuição e a emoção não podem continuar a ser desprezadas e desencorajadas na aprendizagem.
Parte do cérebro do estudante fica inativo e todo o seu funcionamento fica em falência.
A escola ou sala de aula que não desenvolva a intuição e a emoção dos estudantes está condenada.
Esvaziada de entusiasmo, ela empobrece o cérebro dos seus ocupantes, quer no seu presente, quer no seu futuro.
Gerir intencionalmente e ativamente o clima emocional e social da sala de aula
Esta estratégia de aprendizagem emocional foca a possibilidade de cometer erros e aprender com eles.
Algo só possível de ocorrer numa atmosfera pedagógica de confiança e de respeito.
O clima e o envolvimento social onde decorrem as inter-relações entre experientes e inexperientes ou entre professores e alunos, contribui de forma crucial para a aprendizagem.
Pois só nesses ambientes as emoções positivas podem fazer parte das interações dinâmicas de transmissão e recepção da cultura.
São sinais de dispedagogia muito sérios:
Provocar emoções artificiais e de fácil impacto nos estudantes;
Incitar sentimentos desadequados na sala de aula;
Ridicularizar condutas inapropriadas;
Distribuir recompensas sem nexo pedagógico;
Colocar situações e atividades que não sejam relacionadas com as tarefas significativas de aprendizagem.
Pois podem implicar comportamentos de indisciplina, de oposição, de provocação e gerar mesmo padrões de negatividade argumentativa.
E que no seu todo, alteram o clima emocional e a coesão social da sala de aula.
Aprender também envolve o cérebro social e emocional dos alunos.
As suas emoções não são irrelevantes.
Excessos de ansiedade ou de excitação trazem sempre problemas de aprendizagem.
Uma sala de aula com participantes distrácteis e desconectados com a informação que será transmitida e processada, espelha e reflete uma aprendizagem tênue, inconsistente, banal, insuficiente e superficial.
Um ambiente social, equilibrado, orquestrado, seguro e agradável é indispensável para que as intuições e as emoções de quem ensina e de quem aprende se possam expressar.
Criando toda uma atmosfera pedagógica de confiança e de conforto que contribua para que os alunos construam competências sociais e emocionais que permitam a acumulação significativa de melhores experiências educacionais.
A escola e a sociedade ganham mais com alunos emocionalmente mais competentes.
A emoção não pode continuar a ser concebida, em comparação com a cognição, como secundária.
Ou subordinada da aprendizagem, ou pior ainda, a ser entendida como um obstáculo que interfere com ela.
A importância da emoção na aprendizagem é crítica.
Só com emoção a aprendizagem pode ser relevante, significativa e útil para a vida de todos os estudantes.
A criança ou o jovem como aluno, estudante e ser aprendente, não pode, consequentemente, ser compreendido apenas como um sistema cognitivo de reprodução de informações e conhecimentos factuais.
Pelo contrário, deve ser reconhecido como ser relacional e emocional.
Como sujeito histórico-social constituído por atitudes, condutas, conhecimentos e competências transmitidas por outros.
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