Ensinar é apresentar o conteúdo?

Ou seria explicar algo a alguém?

Seria expor ideias e conceitos em uma conversa?

Ou seria mostrar na prática o que é algo?

O significado etimológico do verbo “ensinar” (do latim popular insignare) é indicar.

Fazer sinal (signum facere) ou apontar numa direção.

Ensinar é, tecnicamente falando, uma atividade polimorfa.

O que, literalmente, significa que pode tomar várias formas diferentes.

A intenção de todas as atividades de ensino é a de produzir aprendizagem.

Mas como se distingue uma atividade de ensino de outras atividades?

Muitos dos métodos educacionais atuais estão construídos com base num conceito de ensino que está longe de ser claro.

Com muita frequência, esses métodos dão ênfase quase exclusiva às atividades dos alunos.

Atividades de investigação, de descoberta, de jogo, mas não às atividades do professor.

Clarificar o conceito de ensino é de importância vital.

Porque o modo você entende o que é ensinar afeta diretamente o que você faz na sala de aula.

Se é verdade que as nossas atividades dependem do modo como as vemos, das nossas crenças à cerca delas, então, se tivermos ideias estranhas e esquisitas sobre o que é ensinar, será provável que façamos coisas estranhas e esquisitas.

O conceito de ensino é totalmente ininteligível sem referência ao conceito de aprendizagem.

Não existe ensino sem a intenção de produzir aprendizagem.

E que, assim sendo, não se pode caracterizar o ensino sem caracterizar a aprendizagem.

Portanto, sem se saber o que é aprender, é impossível saber-se o que é ensinar.

Um conceito é totalmente dependente do outro.

Nessas circunstâncias, se um professor passa toda a tarde em atividades cujo objetivo não é fazer com que os alunos aprendam mas é, digamos, reforçar o seu próprio ego, esse professor não esteve de modo algum a ensinar.

Por isso muitos professores são verdadeiras “fraudes” durante a maior parte das suas vidas.

Um professor que não tem didática.

E isto por a sua intenção de produzir aprendizagem nunca ter sido clara.

No entanto os alunos podem aprender muitas coisas ainda que o professor não esteja efetivamente ensinando.

O ensinar na sala de aula

Exitem três passos básicos em uma aula:

  • seleção do conteúdo pelo professor,
  • levantamento de dúvidas dos alunos e
  • exercícios para fixação, cabendo ao aluno a memorização para a prova.

Nessa visão de ensino, a aula é o espaço onde o professor fala, diz e explica o conteúdo.

Cabendo ao aluno anotá-lo e memorizá-lo.

Mas ensinar se limita a isso?

Ensinar deve ser o que guia a busca e o despertar para o conhecimento.

Na realidade da sala de aula, pode ocorrer a compreensão ou não do conteúdo pretendido, a adesão ou não a formas de pensamento mais evoluídas, a mobilização ou não para outras ações de estudo e de aprendizagem.

Isso porque ensinar e aprender é um exercício dialógico que depende de todos os envolvidos.

Ensinar contém – em si – duas dimensões: uma utilização intencional e uma de resultado.

Ou seja, a intenção de ensinar e a efetivação dessa meta pretendida.

Assim, se eu expliquei um conteúdo,  mas o aluno não se apropriou dele, posso dizer que  ensinei?

Ou apenas cumpri uma parte do processo?

Mesmo  tendo uma sincera intenção de ensinar,  se a meta (a apreensão, a apropriação do conteúdo por parte do aluno) não se efetivou plenamente, como seria necessário ou esperado para o prosseguimento do caminho escolar do aluno, posso dizer que ensinei?

Terei cumprido as duas dimensões pretendidas na ação de ensinar?

Uma atividade de ensino é uma atividade de uma pessoa A (o professor).

Cuja intenção é produzir uma atividade (de aprendizagem) na pessoa B (o aluno)

Cuja intenção é atingir um estado final.

Por exemplo, conhecimento, apreciação.

Que tem por objeto X (por exemplo uma atitude, uma aptidão).

Dessa forma o que está envolvido no fato de B adquirir tais fins, é aprender X.

E, daqui pode-se continuar para a compreensão do que está envolvido no fato em A ensinar X a B.

Esta dependência lógica entre ensinar e aprender, e entre o aprender e a natureza dos resultados para os quais uma pessoa se dirige não é, mais uma vez, uma mera questão acadêmica.

É tão logicamente absurdo dizer “ele ensina crianças e não conteúdos” como dizer “ele ensina conteúdos e não crianças”.

Estas afirmações podem ser usadas como slogans, mas uma discussão séria à cerca do ensinar deverá seguramente rejeitar tais slogans em nome da simples verdade lógica segundo a qual ensinar é necessariamente ensinar algo a alguém.

Não no sentido em que se ensina necessariamente um “conteúdo”.

Mas no sentido em que, para a pessoa que aprende, tem que haver sempre uma aquisição final.