Você já ouviu falar sobre transposição didática?
Todos nós, professores, fazemos uso desta prática em sala de aula, mesmo sem saber.
Certamente você já notou que o conhecimento escolar é apresentado de maneira diferente do conhecimento científico, não é?
E isso acontece porque o conhecimento precisa ser adaptado para ser ensinado.
Ou seja, isso significa que todo saber a ensinar sofre um conjunto de transformações adaptativas.
Mudanças essas que irão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino.
E é esse “trabalho” que faz de um objeto de saber a ensinar, um objeto de ensino, que é a transposição didática (CHEVALLARD, 1991).
O termo transposição didática, segundo Chevallard (1991), foi empregado inicialmente pelo sociólogo francês Michel Verret, na sua tese de doutorado Le temps des études, publicada em 1975.
Para Verret, “a didática é a transmissão de um saber adquirido.
É a transmissão dos que sabem para os que ainda não sabem.
Ou ainda daqueles que aprenderam para aqueles que aprendem” (VERRET, 1975¹).
E por essa razão, a prática didática se desdobra em duas: a prática do saber e a prática da sua transmissão.
Assim, na prática da transmissão, as imposições de rotinas e de institucionalizações estão diretamente relacionadas com a estruturação do tempo escolar.
E também com a configuração dos conteúdos trabalhados na escola.
Por isso, para Chevallard, a transposição didática assume a representação triangular do sistema didático.
O que destaca a complexidade das relações estabelecidas entre os três polos desse sistema: o saber (S), aquele que ensina/professor (P), aquele que aprende/aluno (A).
Assim, nesta representação, o professor é como um filtro do saber a ensinar.
O aluno com suas experiências prévias adquiridas na sociedade em que vive.
E há uma relação assimétrica entre professor e aluno, o saber.
Dessa forma, a transposição didática é a simplificação de um conteúdo complexo, a qual não pode conter erros.
E tem como finalidade democratizar o conhecimento.
Mas para Chevallard, o saber escolar não é usualmente problematizado.
O que ocasiona a distância entre o saber ensinado e seus saberes de referência.
No Brasil, Lopes² (1999) propôs o conceito de mediação didática em substituição à nomenclatura transposição didática.
Já que transposição pode dar a ideia de reprodução.
Ou de transportar o conhecimento de um lugar a outro, sem alterações.
Assim, para essa autora, a expressão mediação didática favorece o entendimento desse processo de transformação do conhecimento como um processo de construção de uma realidade a partir de mediações contraditórias, de relações complexas, não imediatas.
Logo, a transposição didática é inserida no âmbito escolar como uma prática pedagógica, no intuito de transpor.
Ou mesmo, transformar determinados conteúdos científicos de difícil compreensão para as turmas de ensino fundamental e ensino médio (NEVES & BARROS, 2011).
Já que os textos usados nas universidades, onde seu estudo teórico requer um maior aprofundamento, são apresentados de forma complexa.
E também precisam de uma carga teórica que necessita um aporte inicial para sua compreensão e leitura.
Já pensou se essas mesmas ideias fossem apresentadas da mesma forma para alunos do ensino básico?
Sem que haja uma revisão e adaptação do conteúdo, a compreensão dos conteúdos por parte dos alunos seria bem mais difícil.
E, consequentemente, interferiria no processo de ensino/aprendizagem.
Por isso, a passagem do saber científico para o saber didático significa selecionar e inter-relacionar o conhecimento acadêmico.
De maneira que se adeque às possibilidades cognitivas dos alunos e utilizando exemplos da realidade do mesmo.
Além disso, a linguagem oral e escrita também precisa ser reajustada, sendo menos técnica.
Assim, a transformação do saber acadêmico em saber escolar se faz em duas etapas:
Uma transposição externa, no plano do currículo formal e dos livros didáticos.
E outra interna, no decorrer do currículo em ação, em sala de aula.
¹ VERRET, M. Le temps des etudes. Paris: Librairie Honore Champion, 1975.
²LOPES, A. C. Conhecimento escolar: ciência e cotidiano. 1ed. Rio de Janeiro: Editora da UERJ,1999.
que texto mal escrito