Philippe Perrenoud é um sociólogo suíço formado pela Universidade de Genebra, e um dos nomes mais relevantes no campo da educação contemporânea.

Suas pesquisas, embora ancoradas na sociologia, dialogam com a pedagogia, a psicologia e a didática, propondo uma visão crítica e transformadora dos processos educativos.

Seu trabalho se destaca pela ênfase na construção de competências, na equidade escolar e na formação docente reflexiva, temas que desafiam modelos tradicionais de ensino e inspiram reformas educacionais em diversos países.

Vamos conhecer suas principais ideias?

A Teoria das Competências: Além do conteúdo disciplinar

Um dos pilares do pensamento de Perrenoud é a noção de competência, desenvolvida em obras como Construir as Competências desde a Escola (1999).

Para ele, competência não se resume à memorização de conteúdos, mas à capacidade de mobilizar conhecimentos, habilidades e atitudes para resolver problemas complexos em contextos reais.

Essa abordagem critica o modelo escolar tradicional, centrado na transmissão de saberes fragmentados, e propõe um ensino que prepare os alunos para a vida, integrando teoria e prática.

Perrenoud argumenta que as competências devem ser construídas por meio de situações de aprendizagem significativas, como projetos interdisciplinares, simulações e estudos de caso.

Por exemplo, em vez de ensinar matemática apenas com exercícios abstratos, o professor poderia propor que os alunos analisassem o orçamento de uma comunidade, aplicando conceitos de porcentagem e estatística.

Essa perspectiva exige uma reorganização curricular, com foco na transposição didática, ou seja, adaptando conhecimento acadêmico para contextos acessíveis aos alunos.

Pedagogia diferenciada: Equidade como imperativo ético

Perrenoud é um crítico contundente do modelo homogêneo de ensino, que trata todos os alunos como iguais, ignorando diferenças socioeconômicas, culturais e cognitivas.

Em resposta, ele propõe a pedagogia diferenciada, que defende a adaptação das estratégias de ensino às necessidades individuais.

Seu princípio é claro: “Dar mais a quem tem menos”, garantindo apoio adicional aos estudantes em desvantagem.

Essa abordagem envolve:

Flexibilidade metodológica: Uso de múltiplos recursos (textos, vídeos, atividades práticas) para abordar o mesmo conteúdo.

Agrupamentos dinâmicos: Criação de grupos temporários baseados em desafios específicos, evitando rótulos como “alunos fracos” ou “fortes”.

Avaliação diagnóstica contínua: Identificação precoce de dificuldades para ajustar o planejamento pedagógico.

Para Perrenoud, a escola não pode ser neutra: ela deve compensar desigualdades estruturais, oferecendo oportunidades reais de aprendizagem a todos.

Avaliação formativa: Ferramenta de regulação

A avaliação é outro eixo central de sua obra.

Em Avaliação: Da Excelência à Regulação das Aprendizagens (1999), Perrenoud redefine a avaliação como um instrumento de regulação, não de classificação.

avaliação formativa tem como objetivo diagnosticar lacunas no aprendizado e orientar ajustes no ensino, em vez de simplesmente medir resultados.

Assim, as práticas sugeridas por ele incluem: um feedback constante, comentários detalhados que ajudem o aluno a entender seus erros e progressos; autoavaliação, e com isso envolver os estudantes na análise de seu próprio desempenho e portfólios, uma compilação de trabalhos que evidenciem a evolução ao longo do tempo.

Perrenoud alerta que a avaliação somativa (notas e rankings) reforça hierarquias e exclui os menos favorecidos, perpetuando desigualdades.

Em contraste, a avaliação formativa promove justiça educacional.

Prática reflexiva: O professor como investigador

Influenciado por Donald Schön, Perrenoud defende que os professores devem adotar uma postura reflexiva, analisando criticamente suas próprias práticas.

Em A Prática Reflexiva no Ofício de Professor (2002), ele argumenta que a reflexão deve ocorrer durante e após a ação pedagógica, permitindo ajustes imediatos e transformações de longo prazo.

Isso implica em questionar rotinas, por exemplo, repensar por que determinado conteúdo sempre é ensinado de forma expositiva; documentar experiências, e com isso registrar desafios e soluções encontradas em sala de aula e dialogar com pares, compartilhando dúvidas e estratégias com outros professores.

Para ele, a reflexão é essencial para lidar com a complexidade do ensino, especialmente em contextos de diversidade.

Crítica à reprodução das desigualdades

Como sociólogo, Perrenoud analisa como a escola reproduz desigualdades sociais.

Em A Pedagogia na Escola das Diferenças (2001), ressalta que alunos de classes privilegiadas dominam códigos culturais valorizados pela instituição (como linguagem acadêmica), enquanto os de origens populares enfrentam barreiras invisíveis.

E a solução para essa desigualdade passa pela discriminação positiva,  onde a alocação de recursos extras é para escolas em áreas vulneráveis; revisão do currículo, incluindo saberes locais e combatendo a estereótipos e formação docente crítica, preparando os professores para reconhecer e desafiar mecanismos de exclusão.

Implicações para a formação de professores

Perrenoud defende uma formação docente alinhada às demandas da prática.

Em Dez Novas Competências para Ensinar (2000), ele lista habilidades essenciais, como a gestão da heterogeneidade (estratégias para ensinar turmas diversas), trabalho em equipe (colaboração com colegas, famílias e profissionais de outras áreas) e o uso crítico de tecnologias (integração de ferramentas digitais de modo pedagógico).

Critica a formação inicial excessivamente teórica e defende estágios prolongados, nos quais futuros professores possam experimentar e refletir sobre desafios reais.

As ideias de Philippe Perrenoud mantêm-se urgentes em um mundo marcado por crises sociais e educacionais.

Sua defesa de uma escola equitativa, focada em competências e comprometida com a reflexão crítica, oferece caminhos para enfrentar desafios como a evasão escolar, a desvalorização docente e a desconexão entre currículo e realidade.

Seu trabalho não apenas descreve problemas, mas aponta alternativas concretas, reforçando o papel da educação como alicerce para a justiça social.