Certamente você já ouviu falar de Piaget, Vygotsky e Wallon, e suas teorias.

Esses três autores são o tripé das teorias que ajudam a professores e pesquisadores a compreender a inteligência, o aprendizado e o desenvolvimento.

Mas você sabe o que elas tem em comum?

E onde divergem?

A contribuição de cada um é muito relevante, mesmo com suas diferenças.

E é preciso conhecê-las para poder usá-las sempre que necessário.

Por isso, reunimos aqui as principais ideias dos três autores sobre as concepções de aprendizagem.

E para começar vamos relembrar quem foram essas três referências educacionais.

Jean Piaget (1896 –1980)

Formado em Biologia, Piaget especializou-se nos estudos do conhecimento humano.

Desenvolveu a teoria conhecida como Epistemologia Genética.

Sua principal questão é: Como o ser humano constrói o conhecimento?

Principais conceitos

O conhecimento é adquirido por assimilação.

Ou seja, o aluno incorpora as experiências ou objetos às estratégias ou conceitos já existentes.

E também por acomodação, já que para o aluno aprender é preciso modificar e ajustar o que ele já sabe para as novas experiências ou informações.

Outro ponto importante na teoria de Piaget é a equilibração.

Já que é o fator essencial e determinante no desenvolvimento do sujeito ao processo de adaptação ao meio em que vive.

Dessa forma, aprender é um constante processo de desequilibração e equilibração.

Para Piaget o desenvolvimento cognitivo e afetivo se dá em estágios sequenciais.

Assim, os estágios são:

Sensório-motor (0-2 anos)

Pré-operatório (2-7 anos)

Operatório concreto (7-11 anos)

Operatório formal (11-15 anos ou mais)

Implicações Pedagógicas

A aprendizagem depende do processo de desenvolvimento cognitivo.

Assim, o papel da escola é dar à criança oportunidade de agir sobre os objetos de conhecimento.

E consequentemente, o papel do professor é de facilitador e desafiador de seus processos de elaboração.

É o aluno quem constrói o próprio conhecimento.

Para Piaget, a aprendizagem está condicionada ao desenvolvimento cognitivo e afetivo e seus estágios.

Enquanto sujeito de seu conhecimento, o homem tem acesso direto aos objetos e eventos.

Ao professor cabe pensar e desenvolver situações de aprendizagem que sejam ao mesmo tempo compatíveis com o estágio de desenvolvimento cognitivo no qual o aluno se encontra e representem, também, um desafio aos mesmos.

Lev Semenovich Vygotsky (1896 –1934)

Formou-se em Direito e estudou Literatura e História.

Vygotsky levantou a questão da relação entre ensino aprendizagem escolar e desenvolvimento cognitivo.

Suas teorias consideram muito a escola, os professores e a interação pedagógica.

Para Vygotsky, a criança nasce inserida num meio social, que é a família.

E é nela que estabelece as primeiras relações com a linguagem na interação com os outros.

O ponto central de sua teoria é:  A aquisição de conhecimentos acontece pela interação do sujeito com o meio.

Principais Conceitos

Para Vygotsky o aluno é parte de uma construção histórica, cultural e social.

E por isso, o desenvolvimento da estrutura cognitiva humana é um processo que se dá na apropriação da experiência histórica e cultural.

Assim, os instrumentos para a aprendizagem é tudo que se interpõe entre o homem e o ambiente, ampliando e modificando suas formas de ação.

Dessa forma, para Vygotsky, tudo que é utilizado pelo homem para representar, evocar ou tomar presente o que está ausente constitui um signo.

Por exemplo, a palavra, o desenho e os símbolos.

Assim como, a interação social é a base do processo de aprendizagem humana.

ou seja, o outro social é com quem interagimos, o outro.

Para Vygotsky o processo de apropriação do mundo cultural é por meio da linguagem.

Tanto a linguagem socializada (o que você compartilha com o outro social) quanto a linguagem egocêntrica (fala interna).

E essa fala interna, essa capacidade de compreensão e de avaliar o que foi aprendido, é chamado de metacognição.

Um outro conceito importante da teoria de aprendizagem de Vygotsky é a zona de desenvolvimento proximal.

O aprendizado impulsiona o desenvolvimento, assim a criança tem níveis de desenvolvimento.

A zona de desenvolvimento proximal é o que está em processo de amadurecimento.

Ou seja, o que o aluno ainda não constrói sozinho; o que ele precisa de ajuda.

E o professor propicia um “andaime” para que o aluno chegue ao desenvolvimento real.

E a zona de desenvolvimento real, é a capacidade de realizar tarefas de forma independente.

Implicações pedagógicas

O conhecimento na sala de aula é um processo social e compartilhado.

O professor serve como guia, como suporte do processo da aprendizagem.

E o aluno é o sujeito da aprendizagem, aquele que aprende junto ao outro.

Para Vygotsky, o desenvolvimento e aprendizagem são processos concomitantes, interdependentes e recíprocos.

Assim, enquanto sujeito de seu conhecimento, o homem não tem acesso direto aos objetos e eventos.

Este acesso é mediado pela linguagem.

O professor é mediador do processo de ensino-aprendizagem.

E por isso, a ação docente deve acontecer dentro da Zona de Desenvolvimento Proximal.

Para isso, ele deve conhecer os saberes prévios daqueles a quem ensina, planejar o processo de aprendizagem com o objetivo de atingir o potencial do aluno, em um processo de construção do conhecimento.

Além disso, o professor precisa sempre refletir sobre sua prática pedagógica e deve encorajar o aluno assumir a responsabilidade por sua própria aprendizagem.

Henri Wallon(1879 –1962)

Pesquisador e professor francês, graduou-se em medicina e estudou psicologia e filosofia.

Segundo Wallon, a gênese da inteligência é biológica e social.

Ou seja, o ser humano é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura.

Seu projeto teórico foi  estudar a gênese dos processos que constituem o psiquismo humano.

Considerava que a escola deveria perceber o aluno como um ser total, concreto e ativo e de manter-se em contato com o meio social.

O ponto central da sua teoria é a psicogênese.

O desenvolvimento intelectual envolve não só o cérebro, mas também sua emoção.

Principais Conceitos

Para Wallon, o desenvolvimento cognitivo e afetivo se dá em estágios de maneira descontínua.

E a partir do potencial genético, inerente a espécie, e a fatores ambientais e socioculturais.

Os estágios de desenvolvimento definidos por Wallon são: Impulsivo-emocional, Sensório-motor e projetivo, Personalismo, Categorial e Puberdade e adolescência.

E os estágios do Desenvolvimento Mental são:

1º Estágio: impulsivo-emocional, ocorre no 1° ano de vida.

2º Estágio -Sensório-motor e projetivo: vai até os 3 anos;

3º Estágio – Personalismo : dos 3 aos 6 anos;

4º Estágio – Categorial :  dos 6-11/12 anos;

5º Estágio – Predominância funcional.

A afetividade precede nitidamente o aparecimento das condutas.

E as necessidades cinéticas, de movimento e posturais são imprescindíveis ao desenvolvimento infantil.

Implicações pedagógicas

O papel do outro na construção do conhecimento é indiscutível.

O professor deixa de ser o agente exclusivo na formação das crianças.

A interação com as outras crianças assume um papel fundamental no desenvolvimento e aprendizagem de cada uma delas.

O movimento é imprescindível ao desenvolvimento da criança.

A brincadeira assume um lugar essencial no desenvolvimento da criança.

A emoção ocupa um lugar privilegiado no desenvolvimento do sujeito, em especial da criança.

Os conflitos, crises e contradições são pontos importantes para a compreensão da pessoa humana.

Para Wallon, o desenvolvimento e aprendizagem são diretamente influenciados por aspectos culturais e orgânicos de cada indivíduo.

Enquanto sujeito de seu conhecimento, o homem não tem acesso direto aos objetos e eventos.

Este acesso é mediado pela afetividade.

Ao professor e escola cabe conhecer o contexto no qual a criança está situada, ou seja, sua história.

Isso trará maior possibilidade de compreensão da inter-relação entre o desenvolvimento dos domínios afetivo, cognitivo e motor.

Principais semelhanças ente Piaget, Vygotsky e Wallon

Os três eram sócio-interacionistas.

Portanto, pensavam o homem como um ser social.

Tinham formação acadêmica em outras áreas que não a educação.

E deram contribuições valiosas à educação através das teorias psicogenéticas.

Acreditavam que o conhecimento é construído gradualmente.

E levaram em conta a base biológica do funcionamento psicológico.

Acreditavam que os processos filogenéticos e ontogenéticos tinham implicações diretas no desenvolvimento.

Principais diferenças

Piaget e Wallon focaram suas analises sobre o desenvolvimento cognitivo e afetivo do nascimento à adolescência.

Já Vygotsky pensou o desenvolvimento e aprendizagem como algo que ocorre por toda vida.

Para Piaget, conhecimento é construído do individual para o social.

Enquanto que para Vygotsky e Wallon, do social para o individuo.

Piaget via o desenvolvimento cognitivo e afetivo como uma “marcha para o equilíbrio”.

E embora os três pensassem o homem como um ser social, Piaget privilegiava a maturação biológica como condição ao desenvolvimento cognitivo (aprendizagem).

Enquanto que Vygotsky, a interação social e Wallon, a afetividade.

Para Piaget, os estágios de desenvolvimento eram ordenados e universais.

Para Wallon, os estágios sofriam rupturas e retrocessos.

Vygotsky e Wallon viam o desenvolvimento como resultante do meio.

Portanto, se o meio mudasse, isso impactaria o desenvolvimento.

Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo é determinado pela oposição da coação à cooperação.

Vygotsky considera questões econômicas e socioculturais como determinantes.

Wallon considera questões econômicas, socioculturais e afetivas como determinantes.

Piaget pensa o social e suas influências sobre os indivíduos pela perspectiva ética.

Vygotsky, pela perspectiva cultural e Wallon, pela perspectiva cultural e afetiva.

Para Piaget, o processo de pensamento é resultado dos esquemas; a linguagem é resultado do desenvolvimento dos processos mentais.

Vygotsky e Wallon não só viam pensamento e linguagem com interdependentes e recíprocos.

Mas atribuía grande importância à aquisição da linguagem, pois ela diretamente influenciava as funções superiores.

Porém, Wallon já via a emoção (o choro, o riso, tom de voz agradável ou desagradável) como a primeira linguagem da criança.

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