O ciclo de aprendizagem vivencial, popularmente conhecido como CAV, é um modelo de condução e desenvolvimento que prioriza a experiência.

Isso significa que, essa metodologia ativa utiliza a vivência para consolidar as novas informações.

Dessa forma, a  aprendizagem vivencial acontece quando uma pessoa se envolve numa atividade, consegue analisar criticamente, extrair algum “insight” útil dessa análise e aplicar seus resultados.

Assim, de maneira mais simples, é um “processo indutivo”, porque parte da simples observação.

Por isso, a grande vantagem do CAV é possibilitar a percepção do que se pode fazer com os conhecimentos adquiridos.

O foco consciente da experiência, que é selecionado e formado pelo nível pessoal de desenvolvimento real, é refinado e diferenciado na zona de desenvolvimento proximal, apropriando-se dela e a transformando.

Dessa forma, a teoria da aprendizagem vivencial está alicerçada nas obras de Lewin, Dewey e Piaget.

E, por isso, concebe a aprendizagem como um processo.

E não em termos dos resultados obtidos na forma de acúmulo de conhecimentos ou respostas a estímulos.

As competências na CAV

Os elementos de uma competência são as atitudes, conhecimentos e habilidades necessários para realizar uma atividade.

Assim, a construção de novos conhecimentos, habilidades ou atitudes exige que o aprendiz desenvolva quatro diferentes capacidades: experiência concreta (EC), observação reflexiva (OR), concepção abstrata (CA) e experimentação ativa (EA).

Isto é, o aprendiz cumpre um ciclo onde ele deve inicialmente ser capaz de envolver a si mesmo em novas experiências (EC).

A seguir, ele deve ser capaz de refletir sobre essas experiências (OR).

A partir disto, o aprendiz deve ser capaz de criar conceitos que integrem suas observações de forma lógica em teorias (CA).

Por fim, ele deve ser capaz de usar estas teorias para tomar decisões e resolver problemas (EA).

Do ponto de vista da dinâmica do processo de aprendizagem,  o ciclo se caracteriza por uma espiral na medida que o conhecimento é um processo contínuo de integração de experiências e conceitos (Kolb,1984).

O CAV consiste em 5 fases bem definidas

1. Vivência

Onde se propicia a todos os integrantes do grupo a experimentação conforme regras determinadas.

2. Relato

Momento em que ocorre o compartilhamento das emoções referente a vivência experienciada.

3. Processamento

Permite a análise e compreensão do quer foi vivido.

4. Generalização

Momento de relacionar o que foi vivido com a realidade do indivíduo.

5. Aplicação

Propicia a aprendizagem por meio de novas atitudes e comportamentos diante de uma situação.

Mas como usar a CAV em sala de aula?

Colocar essa metodologia ativa pode parecer complicado, por isso separamos aqui dicas de cada etapa.

  • Vivência (participar da atividade)

A primeira etapa da CAV consiste na vivência de uma situação por meio de atividades nas quais o participante se engaja.

É o fazer da atividade.

Quase toda atividade que implica uma autoavaliação e interação interpessoal pode ser usada como estágio de vivência da Aprendizagem Vivencial.

Geralmente são utilizados jogos ou dinâmicas que são compostos ou contemplem:

  • fabricação de produtos,
  • criação de objetos de arte,
  • elaboração de piadas e anedotas,
  • dramatização interações,
  • solução de problemas,
  • feedback,
  • auto exposição,
  • fantasia,
  • escolha,
  • comunicação não verbal, 
  • redação,
  • análise de estudos de casos,
  • negociação, 
  • planejamento,
  • competição,
  • confrontação. 

 

Estas atividades podem ser realizadas em duplas, trios, pequenos grupos, ou grandes grupos.

O que se objetiva nessa fase

O objetivo é uma aprendizagem indutiva.

Isso porque ocorre por meio da descoberta, onde o que exatamente será aprendido não pode ser especificado de antemão.

E, dessa forma, nesta fase priorize atividades que possam desenvolver uma base comum de dados para a discussão que se fará em seguida.

O aluno precisa descobrir os dados construindo.

Por isso, descreva os objetivos das atividades desta etapa com verbos de ação.

Por exemplo,  “explorar”, “examinar”, “estudar”, “identificar”, “vivenciar”,“analisar”.

Além disso, outro ponto importante desta fase é perguntar aos alunos qual o objetivo da atividade a fim de verificar a percepção dos mesmos.

  • Relato (compartilhar reações e observações)

É o momento de ouvir o aluno sobre a vivência da atividade.

Aqui você deve dar voz ao aluno deixando que ele relate suas impressões.

A intenção desta fase é tornar disponível, para o grupo, a experiência de cada indivíduo.

O relato pode ser facilitado através de:

  • Registro de dados referentes à produtividade do grupo, por exemplo, satisfação, confiança, liderança, comunicação, decisões, sentimentos etc.; 
  • Registro de rápidas associações de ideias, abrangendo os vários tópicos relacionados à atividade;
  • Relatos nos subgrupos;
  • Listas afixadas no quadro contendo dados do grupo;
  • Giro pelos grupos, com a realização de mini-entrevistas com os participantes, para que relatem suas dificuldades e facilidades;
  • Análise do desempenho do grupo quando da representação de papeis (coordenador, moderador, relator, etc.).
O que se objetiva nessa fase

Nesta fase, priorize o compartilhamentos de sentimentos e emoções dos alunos.

É o momento de descobrir o que aconteceu entre os indivíduos, tanto a nível cognitivo quanto afetivo, enquanto a atividade estava se desenvolvendo.

A fase do relato pode desenvolver-se por meio de discussões livres, mas isto exige que o você, enquanto mediador, seja claro nas interversões em cada fase.

Dessa forma, nesta fase é importante questionar os alunos quanto ao sentimento em relação ao seu resultado (Quais? Lembrando sempre que é individual, nunca coletivo) e também quais as estratégias foram utilizadas.

  • Processamento (dinâmicas de grupo)

A discussão em profundidade é a parte crítica do ciclo e não pode ser ignorada.

Esta fase é que requer mais cuidado no planejamento.

E para isso você pode utilizar:

  • Roteiro de observações; 
  • Discussão temática de tópicos decorrentes dos relatórios individuais; 
  • Complementação de sentenças; 
  • Questionários estruturados, relacionados com o tema;
  • Palavras-chave afixadas em local visível, que possa, orientar as discussões;
  • Feedback interpessoal, relativo ao desempenho dos membros do grupo.
O que se objetiva nessa fase

Nesta fase, o objetivo é que os participantes reconstruam os padrões de comportamento e as interações da atividade, a partir de relatos individuais.

Os participantes são levados a observar o que aconteceu em termos de dinâmica.

Por isso, para ajudar os alunos, você pode fazer intervenções pedindo para explicar o que aconteceu, por que do sucesso ou do fracasso?

E ainda, se o aluno pudesse fazer de novo, o que mudaria? Por que?

  • Generalizações (inter-relacionar princípios com mundo real)

Nesta fase os participantes inferem princípios que podem ser aplicados em sua realidade, a partir da atividade.

Para isso priorize atividades que envolva imaginar situações do dia-a-dia e analisar, individualmente, as habilidades adquiridas com a atividade.

Os alunos precisam ser capazes de questionar as habilidades apreendidas e como isso se relaciona com seu dia-a-dia.

Além disso, podem também ser utilizadas atividades que priorizam palavras-chave, visando criar tópicos que servem de subsídios para generalizações.

O que se objetiva nessa fase

Nesta etapa o objetivo é apresentar e debater as generalizações da atividade realizada pelo grupo.

Isso pode acontecer tanto de forma oral quanto visual.

  • Aplicação (planejar comportamentos)

Nesta etapa, ocorre a conceituação, na qual se faz a organização da experiência.

Dessa forma, priorize atividades que promovam a análise e discussão das tarefas realizadas, dos resultados obtidos e do processo vivenciado.

É nesta etapa que você, enquanto mediador do processo de aprendizagem, faz a conexão do que os alunos vivenciaram e relataram com informações e fundamentos teóricos.

Para que, assim, ocorra a sistematização e elaboração da aprendizagem.

A conexão é a etapa em que se faz a correlação com o real, comparando os aspectos abordados nas demais etapas com situações de trabalho.

E projetando ações que iniciam um novo ciclo de aprendizagem.

Neste momento os alunos transferem as generalizações para a situação real.

O que se objetiva nessa fase

Nesta fase objetiva-se que os alunos sejam capazes de planejar comportamentos mais eficientes e propor situações reais para os problemas vivenciados.

Vários procedimentos podem ser adotados neste estágio:

  • Consultoria em tríades (os participantes alternam-se e ajudam uns aos outros, levantando problemas do dia-a-dia e aplicando generalizações).
  • Estabelecimento de objetivos (plano de melhoria, baseado nos problemas do dia-a-dia, a partir de generalizações da tarefa).
  • Contratação (assumir perante o grupo compromissos explícitos no que concerne a aplicações).
  • Formação de subgrupos de interesses comuns para discutir generalizações concretas, em termos do que pode ser aproveitado mais efetivamente.
  • Sessão de prática (dramatizar situações do dia-a-dia, para ensaiar novas formas de comportamento)

Para saber mais:

KOLB, D. A. A gestão e o processo de aprendizagem In: STARKEY, K. (org.) Como as organizações aprendem – relatos do sucesso das grandes empresas. São Paulo: Futura

PFEIFFER, J. W.; JONES, J. E.  Annual Handbook forgroup facilitators, University Associates: San Diego, 1980.