Nós já falamos sobre a aprendizagem baseada em equipes (ABE) aqui.

Mas o que é preciso para implementar uma atividade dessa metodologia ativa?

Quais decisões precisam ser tomadas ao planejar o módulo ou para a avaliação?

Se você quer entender como desenvolver ABE em sala de aula, esse post é para você!

Então vamos ao passo a passo!

O primeiro passo do planejamento da ABE é decidir os objetivos educacionais que os alunos devem alcançar.

E para tomar essa decisão, Michaelsen recomenda utilizar o modelo “reverso”.

Ou seja, o primeiro objetivo a ser definido é: para que o aluno utilizará o conhecimento adquirido.

Assim, você deve considerar o que quer que o aluno consiga fazer em um contexto real e a forma como ele fará.

Além das decisões que terá que tomar e sua sequência e condições.

Mas como é o preparo de um módulo em ABE?

Quando se modifica a estratégia pedagógica de uma aula expositiva, centrada no professor, para uma atividade do tipo TBL, centrada no aluno, três mudanças são necessárias:

  1. Os objetivos primários do curso devem ser ampliados

Passando de uma tentativa de trabalhar apenas os conceitos-chave de um tópico para objetivos que incluam a compreensão sobre estes conceitos devem ser aplicados em situações/ problemas reais.

  1. O papel e funções do professor também mudam

Pois ao invés de ser alguém que oferece informação e conceitos, ele deverá ser aquele que contextualiza o aprendizado e maneja o processo educacional como um todo, agindo mais como facilitador da aprendizagem.

  1. Finalmente, é necessária uma mudança no papel e função dos alunos

Que agora saem da posição de receptores passivos da informação para a condição de responsáveis pela aquisição do conhecimento.

E de membros integrantes de uma equipe que trabalha de forma colaborativa para compreender como aplicar o conteúdo na solução de problemas realísticos e contextualizados.

Então como organizar uma atividade utilizando o ABE?

A primeira ação deve ser a formação das equipes.

Os grupos formados são compostos por cinco a sete estudantes.

Devem ser constituídos de modo a permitir que realizem a tarefa atribuída.

Mas também buscando minimizar as barreiras à coesão do grupo, incluindo diversidade na sua composição e oferecendo os recursos necessários.

Por isso, evite formar grupos que tenham vínculos afetivos.

Como por exemplo, irmãos, namorados, amigos muito próximos.

E também evite expertise diferenciada de alguns membros, já que estes tenderão a se isolar.

Assim, você deve mesclar os alunos de forma aleatória e equilibrada.

Buscando a maior diversidade possível e jamais delegando aos alunos a tarefa de formação dos grupos.

O segundo passo é organizar a sequência de atividades que incluem etapas prévias ao encontro com o professor e aquelas por ele acompanhadas.

Assim, as etapas são:

A avaliação da garantia de preparo (readiness assurance test) é também conhecida pela sigla em inglês RAT.

E deve ser realizado de maneira individual (iRAT) e depois em grupos (gRAT).

As atividades desenvolvidas nesta etapa buscam checar e garantir que o aluno está preparado e pronto para resolver testes individualmente.

E também para contribuir com a sua equipe e aplicar os conhecimentos na etapa seguinte do ABE.

E a última etapa, a aplicação dos conhecimentos (conceitos), adquiridos por meio da resolução de situações problema nas equipes, que deve ocupar a maior parte da carga horária.

Etapa 1. Preparação individual pré-classe

Os alunos devem ser responsáveis por se prepararem individualmente para o trabalho em grupo.

Seja com leituras prévias ou outras atividades definidas pelo professor com antecedência.

Tais como assistir à realização de um experimento, a uma conferência, a um filme, realizar entrevista, entre outras.

A preparação da atividade individual pré-classe é uma etapa crítica.

Já que se os alunos individualmente não completam as tarefas pré-classe, eles não serão capazes de contribuir para o desempenho de sua equipe.

A falta desta preparação dificulta o desenvolvimento de coesão do grupo.

E resulta em ressentimento dos alunos que se prepararam, pois estes percebem a sobrecarga causada pelos seus colegas menos dispostos e/ou menos capazes.

Etapa 2. Garantia de Preparo

O mecanismo básico que garante a responsabilidade individual pela preparação pré-classe é o processo denominado: “Readiness Assurance”.

E que aqui chamamos de Garantia do Preparo.

O primeiro passo no processo é um teste de garantia do preparo individual (individual readiness assurance test – iRAT).

O qual é respondido sem consulta a qualquer material bibliográfico ou didático.

E consiste em 10 a 20 questões de múltipla escolha, contemplando os conceitos mais relevantes das leituras ou das atividades indicadas previamente.

Individualmente, assinalam suas respostas em uma folha de respostas que permite que os alunos “apostem” na resposta certa.

Ou em mais de uma resposta se estiverem em dúvida.

Por exemplo, se na questão 1 (com 4 alternativas e valendo 4 pontos), o indivíduo estiver em dúvida entre a alternativa “a” e a alternativa “c”, ele pode apostar 2 pontos em cada uma.

Também pode utilizar diversas combinações, pontuando mais se escolher apenas a alternativa correta.

Na próxima etapa, os grupos são reunidos em classe de acordo com o grupo que ficou definido, para resolver o mesmo conjunto de testes.

Também sem consulta (garantia do preparo em grupo – group readiness assurance test – gRAT).

Os alunos devem discutir os testes e cada membro defende e argumenta as razões para sua escolha até o grupo decidir qual é a melhor resposta.

Como resultado, os alunos percebem que são explicitamente responsáveis perante seus pares.

Não só no preparo pré-classe, mas também por ter que explicar e fundamentar suas respostas, exercitando suas habilidades de comunicação, argumentação e convencimento.

Ainda nesta fase, quando o grupo decide por uma resposta, deve utilizar o instrumento entregue pelo professor para que recebam o feedback imediato de qual é a resposta certa.

Deve haver um mecanismo para que os grupos saibam qual a resposta correta, o mais rapidamente possível.

Pois isso auxilia o grupo no processo de decisão e garante o feedback imediato.

Pode-se utilizar uma cartela contendo as alternativas cobertas ou por etiquetas a serem retiradas ou por material a ser raspado.

A pontuação individual e a do grupo são, então, assinaladas.

A individual corresponde aos pontos que foram direcionados à alternativa correta.

E a do grupo depende do número de etiquetas retiradas ou de “raspadinhas” realizadas.

Se o grupo acertou na primeira tentativa (primeira resposta “aberta”) recebe o total de pontos (quatro, se este for o número de alternativas existentes para cada teste).

E estes pontos decrescem se mais tentativas forem realizadas até zero se todas as alternativas forem reveladas antes de encontrar a resposta correta.

Nestas duas fases (iRAT e gRAT) é possível utilizar clickers (sistemas de resposta eletrônicas) para registrar a escolha.

O que facilita o levantamento das respostas pelo professor e ainda gera gráficos para projeção posterior, quando dos seus comentários e feedback aos estudantes.

A seguir, abre-se a possibilidade das equipes recorrerem (apelação), no caso de não concordarem com a resposta indicada como correta.

Todo apelo deve ser feito acompanhado de argumentação, sugestão de melhoria e com consulta a fontes bibliográficas pertinentes.

É necessário cumprir alguns requisitos para a apelação: ser feita por escrito, por toda a equipe, em formulários que podem ser criados especificamente para esta finalidade e encaminhada ao professor com as referências e evidências que dão suporte à argumentação da equipe.

A equipe deve também propor o novo formato e a resposta correta da questão.

As equipes que tiverem seus apelos acatados, ganham pontos e o professor tanto pode fazer seu julgamento naquele momento ou então realizar a devolutiva na próxima aula.

O professor pode ainda, proferir os seus comentários sobre cada teste ou realizar uma mini conferência em que os temas mais relevantes e incluídos na avaliação anterior são abordados, em especial aqueles que sejam mais necessários, observando-se as discussões em cada grupo.

O professor, buscando clarear conceitos fundamentais, oferece feedback a todos simultaneamente.

Ao final desta etapa, os estudantes devem estar confiantes a respeito dos conceitos fundamentais.

E poderão aplicá-los para resolver problemas mais complexos que serão oferecidos na etapa de aplicação do conhecimento, que se segue numa atividade de ABE.

Etapa 3. Aplicação de conceitos

É uma etapa fundamental que ocorre na sala de aula.

O professor deve proporcionar aos alunos, reunidos em suas equipes, a oportunidade de aplicar conhecimentos para resolver questões apresentadas na forma de cenários/problemas relevantes e presentes na prática profissional diária.

Os alunos devem ser desafiados a fazerem interpretação, inferências, análises ou sínteses.

Para avaliar a qualidade das respostas, podem ser utilizadas questões no formato de testes de múltipla escolha, verdadeiro ou falso ou questões abertas curtas.

O fundamental é que todas as equipes estejam preparadas para argumentar sobre a escolha que fizeram.

A terceira etapa deve ser a mais longa e poderá ser repetida até que se contemple os objetivos de aprendizagem de acordo com o planejamento realizado por você e o tempo disponível para o curso.

Conclui-se, assim, um módulo ou unidade educacional em ABE.

A etapa de aplicação do conhecimento deve ser estruturada seguindo alguns preceitos.

Os quatro princípios básicos para elaborar esta fase são conhecidos em inglês como os 4 S’s:

Problema significativo (Significant):

Alunos resolvem problemas reais, contendo situações contextualizadas.

Ou seja, situações com as quais têm grande chance de se depararem na prática da profissão.

Mesmo Problema (Same):

Cada equipe deve receber o mesmo problema e ao mesmo tempo para estimular o futuro debate.

Escolha específica (Specific):

Cada equipe deve buscar uma resposta curta e facilmente visível por todas as outras equipes.

Nunca deve-se pedir para que as equipes produzam respostas escritas em longos documentos.

Relatos simultâneos (Simultaneous report)

É ideal que as respostas sejam mostradas simultaneamente.

Para evitar que alguns grupos manifestem sua resposta a partir da argumentação de outras equipes.

Assim, cada equipe se compromete com uma resposta e deve ser capaz de defendê-la em caso de divergência com outras equipes.

Idealmente, diferentes equipes devem escolher diferentes respostas.

O que justificará a argumentação desejada nesta etapa, realizada entre as equipes.

Caso todas optem pela resposta correta, estimule o debate perguntando porque as demais alternativas estão erradas.

Como é a avaliação dos alunos no ABE?

Os alunos são avaliados pelo seu desempenho individual e também pelo resultado do trabalho em grupo.

Além de se submeterem à avaliação entre os pares, o que incrementa a responsabilização.

Os membros têm a oportunidade de avaliar as contribuições individuais para o desempenho da equipe.

E essa avaliação pelos pares é essencial.

Pois os componentes da equipe são, normalmente, os únicos que têm informações suficientes para avaliar com precisão a contribuição do outro.

E é uma característica importante do ABE, o caráter formativo e/ou somativo da avaliação.

Além disso, reforça a construção da aprendizagem, além da responsabilização individual.

Outra estratégia de que o ABE faz uso é a pactuação entre professor e alunos da ponderação das diversas fontes de dados para avaliação: resultado do teste individual, em grupo e da avaliação inter pares.

Você pode oferecer faixas percentuais desta ponderação, mínima e máxima e aí os alunos debatem entre si, contribuindo para a responsabilização e o envolvimento na metodologia.