Nós já falamos da importância da alfabetização científica aqui.

Mas como promovê-la em sala de aula?

Essa não é uma pergunta que pode ser respondida com apenas uma estratégia ou uma fórmula.

Isso porque existem várias formas de promover a alfabetização científica em sala de aula.

Pode ser por exemplo quando você ensina ciência, em qualquer nível (CHASSOT, 2016).

Mas o que isso quer dizer exatamente?

Significa contribuir para a compreensão de conhecimentos, procedimentos e valores que permitam aos alunos tomarem decisões.

E também perceber tanto as muitas utilidades da ciência e suas aplicações na melhora da qualidade de vida.

Quanto as limitações e consequências negativas de seu desenvolvimento.

Ou quando você desenvolve atividades em sala de aula que permitam argumentações entre alunos e professor em diferentes momentos da investigação e do trabalho envolvido (SASSERON, 2008).

Ou seja, discussões que propiciem aos alunos levantarem hipóteses e construírem argumentos para dar credibilidade a tais hipóteses.

Além de justificarem suas afirmações e buscarem reunir argumentos capazes de conferir consistência a uma explicação para o tema sobre o qual se investiga.

Mesmo assim você pode estar pensando, mas “tá, mas como eu faço isso?”

Reunimos aqui algumas dicas!

O que considerar em um planejamento na perspectiva da alfabetização científica

Como já dissemos acima, não há uma receita exata para promover a alfabetização científica.

Mas há eixos de trabalho e indicadores que nos mostram que conseguimos atingir essa alfabetização.

Os eixos estruturantes da alfabetização científica (Sasseron, 2008) são norteados por blocos temáticos de conhecimentos científicos.

Aos quais dão subsídios ao planejamento de aulas que visam o desenvolvimento das habilidades da alfabetização científica.

Assim, o primeiro eixo estruturante se refere à compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos científicos.

Este eixo possibilita a capacidade da compreensão da ciência no dia a dia.

Bem como na capacidade de aplicar os conhecimentos científicos em determinados momentos para resolução de problemas do seu cotidiano.

Ou seja, compreensão da linguagem empregada na ciência, bem como seus conteúdos e conceitos propriamente ditos.

Já o segundo eixo se preocupa com a compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática.

Este eixo dá suporte para a formação do caráter, conhecer, discutir normas e regras da ciência que circundam uma sociedade.

Ou seja, saber como a ciência é construída, quais as regras e fatores que a influenciam.

O terceiro eixo estruturante da Alfabetização Científica compreende o entendimento das relações existentes entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente.

Este eixo não deve ser trabalhado isoladamente, pois a compreensão da relação existente entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente, só será possível se o aluno tiver compreensão dos dois outros eixos.

Ou seja, noções básicas de ciência e sobre a natureza da ciência e de seus fatores éticos e políticos.

Levando para sala de aula, podemos exemplificar esse eixo com a capacidade do aluno em compreender que ele faz parte do meio ambiente.

Ou seja, a sociedade é uma paisagem do meio ambiente, sendo a ciência desenvolvida pela sociedade e a tecnologia um produto da ciência e sociedade.

Assim, após escolher um eixo da alfabetização científica, o planejamento requer a articulação de estratégias de ensino que possibilitarão o desenvolvimento dos seus eixos bem como seus indicadores.

Mas o que seriam tais indicadores?

Os indicadores de maneira simples são os indícios de que conseguimos chegar ao objetivo.

É o que nos indica que estamos no caminho certo, que conseguimos promover a alfabetização científica.

Assim, alguns dos indicadores (propostos por Sasseron & Carvalho, 2008) que podem ser utilizados como ferramenta de avaliação são:

Indicador Como identificar
Organização de Informações
Surge quando os alunos procuram preparar os dados existentes sobre o problema investigado.

Assim, este indicador pode ser encontrado durante o arranjo das informações novas ou já elencadas anteriormente.

E ocorre tanto no início da proposição de um tema quanto na retomada de uma questão, quando ideias são relembradas.

Classificação de Informações
Aparece quando se buscam estabelecer características para os dados obtidos.

Ou seja, os alunos selecionam as informações ou dados que consideram relevantes para o problema abordado.

E por vezes, ao se classificar as informações, elas podem ser apresentadas conforme uma hierarquia.

Também se caracteriza por ser um indicador voltado para a ordenação dos elementos com os quais se trabalha.

Raciocínio Lógico
Compreende o modo como às ideias são desenvolvidas e apresentadas.

Dessa forma, se relaciona diretamente com a forma como o pensamento é exposto.

Raciocínio Proporcional
Assim como o raciocínio lógico, é o que mostra o modo que se estrutura o pensamento.

Além de se referir também à maneira como as variáveis têm relações entre si, ilustrando a interdependência que pode existir entre elas.

Levantamento de Hipóteses
Os alunos fazem suposições sobre o solução do problema.

Assim, o levantamento de hipóteses pode surgir tanto como uma afirmação quanto sob a forma de uma pergunta.

Teste de Hipóteses
Trata-se da etapa em que as suposições anteriormente levantadas são colocadas à prova.

E pode ocorrer tanto diante da manipulação direta de objetos quanto no nível das ideias.

Ou seja, quando o teste é feito por meio de atividades de pensamento baseadas em conhecimentos anteriores

Justificativa
Aparece quando, em uma afirmação qualquer proferida, lança-se mão de uma garantia para o que é proposto.

Isso faz com que a afirmação ganhe aval, tornando-a mais segura.

Previsão
Este indicador é explicitado quando se afirma uma ação e/ou fenômeno que sucede associado a certos acontecimentos.
Explicação
Surge quando se buscam relacionar informações e hipóteses já levantadas.

Normalmente a explicação é acompanhada de uma justificativa e de uma previsão, mas é possível encontrar explicações que não recebem essas garantias.

Pois, explicações ainda em fase de construção certamente receberão maior autenticidade ao longo das discussões.

Esses indicadores são habilidades que se desenvolvem na necessidade de esclarecer uma situação, narrar um acontecimento ou expor um assunto estudado.

Ou ainda ligados a dados empíricos.

Esses indicadores podem aparecer tanto como habilidades da escrita quanto na oralidade.

Ou seja, tanto na fala do aluno, quanto na sua produção escrita.

Por isso é importante explorar as duas coisas.

Mas e quais estratégias de ensino favorecem a alfabetização científica?

Algumas estratégias de ensino possibilitam trabalhar esses indicadores mais do que outras.

Por exemplo, o ensino por investigação, a experimentação e a metodologia ativa são grandes ferramentas.

O ensino por experimentação por exemplo, possibilita uma maior interação entre alunos, professor e conhecimento.

Já o ensino por investigação e as discussões propostas levam os alunos elaborar argumentações próprias com justificativas e julgamentos logicamente construídos.

Nestas situações de aula os alunos são estimulados a desenvolver habilidades próprias do “fazer científico”.

E estas se traduzem nos indicadores da alfabetização científica.

Assim, enfatizamos que vários fatores contribuem para execução da ação planejada.

Como por exemplo uma boa estratégia, uma atividade bem organizada, uma boa mediação e a estimulação do aluno como protagonista do aprender.

Assim, ao planejar atividades que visem a promoção da alfabetização científica tenha sempre em mente:

1- Estimular os alunos a darem opinião e a respeitarem as opiniões contrárias.

2- Dar sentido e significado aos conteúdos estudados.

3- Relacionar e utilizar os conhecimentos do cotidiano dos alunos com o científico.

4- Diversificar as estratégias metodológicas.

5- Incentivar a ação investigativa: a busca pelos significados e elaboração de conceitos.

Isso ocorre quando se compara o “novo” com o aquilo que já conhece.

6- Respeitar e compreender que cada um tem o seu ritmo de aprendizagem.

7- Criar um ambiente de aprendizagem estimulante.

8- Elaborar atividades desafiadoras, a aprendizagem se torna melhor quando o aluno é desafiado.

9- Promover interação entre alunos e professor.

10- Apresentar a devolutiva das atividades para os alunos.