Nós já explicamos o que é currículo aqui, mas você sabe quais são as principais teorias que o regem?

Ou por que é importante conhecê-las?

O debate sobre currículo é necessário tanto para que possamos defini-lo quanto para termos clareza sobre quais as teorias que o sustentam na educação.

Já que o currículo não é apenas um conjunto de conteúdos dispostos em um sumário ou índice (LOPES, 2006).

Pelo contrário, a construção de um currículo demanda:

a) uma ou mais teorias acerca do conhecimento escolar;

b) a compreensão de que o currículo é produto de um processo de conflitos culturais dos diferentes grupos de educadores que o elaboram;

c) e conhecer os processos de escolha de um conteúdo e não de outro (disputa de poder pelos grupos).

Ou seja, o currículo é um processo constituído por um encontro cultural, de saberes, de conhecimentos escolares na prática da sala de aula e de locais de interação entre professor e aluno (LOPES, 2006, SILVA, 2005 e SACRISTÁN & PÉREZ GÓMEZ, 2000).

Por isso, conhecer as teorias sobre o currículo nos levam a refletir sobre para que serve, a quem serve e que política pedagógica elabora o currículo escolar.

Já que uma proposta curricular nada mais é do que um texto ou discurso político sobre o currículo escolar.

Isso porque tem intenções estabelecidas por um determinado grupo social.

Assim, é preciso entender o que as teorias do currículo produzem nas propostas curriculares e como interferem em nossa prática.

Para Silva (2005) as teorias do currículo se caracterizam pelos conceitos que enfatizam.

Assim, as principais teorias do currículo e seus respectivos conceitos, são:

curriculo

As teorias tradicionais consideram–se neutras, científicas e desinteressadas.

Já as teorias críticas e as pós-críticas, em contraste, argumentam que nenhuma teoria é neutra, científica ou desinteressada, mas que está, inevitavelmente, implicada em relações de poder.

As teorias tradicionais, ao aceitar mais facilmente os conhecimentos e os saberes dominantes, acabam por se concentrar em questões técnicas.

Em geral, elas tomam a resposta à questão “o quê?” como dada, como óbvia e por isso buscam responder a uma outra questão: o “como?”.

Dessa forma, já que se tem determinado conhecimento (inquestionável?) a ser transmitido, qual é a melhor forma de transmiti-lo?

E por isso, as teorias tradicionais se preocupam com questões de organização.

Enquanto que as teorias críticas e pós-críticas, por sua vez, não se limitam a perguntar “o quê?”, mas submetem este “quê” a um constante questionamento.

Sua questão central é, portanto, não tanto “o quê?”, mas “por quê?”.

Por que esse conhecimento e não outro?

Quais interesses fazem com que esse conhecimento e não outro esteja no currículo?

Por que privilegiar um determinado tipo de identidade ou subjetividade e não outro?

As teorias críticas e pós-críticas de currículo estão preocupadas com as conexões entre saber, identidade e poder.

O que é essencial para qualquer teoria

É essencial saber qual conhecimento deve ser ensinado e justificar o por quê desses conhecimentos e não outros, de acordo com os conceitos que enfatizam.

Quantas vezes em nosso cotidiano escolar paramos para refletir sobre teorias do currículo e o currículo escolar?

Quando organizamos um planejamento bimestral ou anual pensamos sobre aquela distribuição de conteúdos de forma crítica?

E por que este currículo?

Por que estes conhecimentos?

Discute-se que determinado conteúdo é importante porque é fundamento para a compreensão daquele que o sucederá no bimestre posterior ou no ano que vem.

Alegamos que se o aluno não tiver acesso a determinado conteúdo não conseguirá entender o seguinte.

Mas somos capazes de perceber em nossas atitudes (na prática docente), na forma como abordamos os conteúdos selecionados, um posicionamento tradicional ou crítico?

Essas são perguntas que devemos nos fazer ao estudar o currículo e sua configuração social.

Precisamos entender os vínculos entre o currículo e a sociedade, e saber como os professores, a escola, o currículo e os materiais didáticos tenderão a reproduzir a cultura hegemônica e favorecer mais uns do que outros.

Mas que também, há autonomia para exercer a contra-hegemonia, há também luta para um ensino melhor e com mais equidade.

Essa autonomia pode se refletir nos conteúdos selecionados, mas principalmente na forma como os conteúdos são abordados no ensino.

A forma como trabalhamos os conteúdos em sala de aula indica nosso entendimento dos conhecimentos escolares.

E também demonstra nossa autonomia diante da escolha.

Com isso, as reflexões sobre o ambiente escolar devem ser constantes, pois não existem situações definitivas.

Há um momento histórico que precisa ser compreendido e explicado e se necessário transformado.

Então, a teoria do currículo escolar tem um papel normativo? (YOUNG, 2014)

Há dois significados quando se diz que a teoria do currículo tem um papel normativo.

Um deles refere-se às regras (ou normas) que orientam a elaboração e a prática do currículo.

E o outro refere-se ao fato de que a educação sempre implica valores morais sobre uma “boa pessoa” e uma “boa sociedade”.

Em outras palavras, para que estamos educando?

A educação trata de fazer coisas com e para os outros.

E por isso, a pedagogia é sempre uma relação de autoridade (lembrem-se da zona de desenvolvimento proximal de Vygotsky: a diferença entre o que o estudante e o professor sabem) e devemos aceitar essa responsabilidade.

É justamente aí que entra a teoria do currículo.

A educação preocupa-se, antes de mais nada, em capacitar as pessoas a adquirir conhecimento que as leve para além da experiência pessoal, e que elas provavelmente não poderiam adquirir se não fossem à escola ou à universidade.

O papel da teoria do currículo deva ser a análise desse conhecimento – a maior parte dele já existe nas escolas – e a proposta das melhores alternativas que possamos encontrar para as formas existentes.

Para saber mais

MOREIRA A. F., GARCIA, R. L. (org.) Currículo na contemporaneidade: incertezas e desafios. S. Paulo: Cortez, 2018.

MOREIRA, A. F.; SILVA T. T. (org.). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Ed. Cortez, 1999.

MOREIRA, A. F. (org.). Currículo: política e práticas. Campinas: Papirus,1999.

LOPES, A. C. Políticas de currículo em múltiplos contextos. São Paulo: Cortez, 2006.

SACRISTÁN J. G.; PÉREZ GÓMEZ A. I. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: ArtMed, 2000.